domingo, 7 de setembro de 2014

Comparações possíveis e impossíveis



Comparam-se estes tempos a quaisquer outros na História, estudados, investigados? Comparar-se-há porventura se se tomar a perpspectiva tão na moda de que os extraterrestes é que fizeram tudo por nós: pirâmides, arte, engenho... mas se não tomarmos essa perspectiva como totalizante das explicações para a totalidade de tudo, comparam-se estes tempos, a quaisquer outros? Compara-se a nossa arte, o nosso engenho, a nossa quase ausência de pirâmides a quaisquer outros tempos e atitudes? Como se na Era da vigilância em nome da segurança aquilo que se produz é insegurança?  Fórmula acrescida de sobrevivência da Iniciação, como se algo nos dissesse, como num circo: “E agora, ainda mais difícil, o número que se segue!”, quase como se exigisse um silêncio acrescido ao já grande silêncio. Nos abismos da alma, dizem, vive o Espírito. E que alma é esta que “agarrada” a televisões, aparelhagens, máquinas e fuzíveis se avaria e desvaria num percurso que se tornou duplamente sinuoso como um labirinto desdobrado. Não se anulará o Barroco a si próprio na dupla afirmação? Talvez sim, talvez não, como resposta dupla, em sintonia com a pergunta. E que se espera afinal senão esse acordo  (re)conhecível como sempre se esperou? E hoje só será possível esse acordo se se adequirir uma dupla sensibilidade? Talvez seja isto a evolução da espécie... ou talvez não passe de um esforço desnecessário, como se se perdesse energia, ou antes, se deixasse que a energia fosse para onde nem sequer faz falta. A duplicidade, para além da condição da manifestação, tende a tornar-se quadriplicidade alterando os dados do jogo, ou então, puxando-nos mais para além? Daí que quando falamos em Tradição hoje, e tanta gente fala, de que falamos afinal? Comparam-se estes tempos a quaisquer outros? Ou será necessária uma dupla atenção alterando-nos assim a nossa condição uma vez desdobrados? Estará também aí, não só, mas também aí, onde reside essa dupla atenção o Sebastianismo de Bruno, o Supra Camões de Pessoa, uma das leituras da tri-peça de Bandarra, a voz dos poetas que vêem do futuro, presentes já em crianças coroadas como imperatrizes? Ou será tudo um dispêndio de energia, de facto, como aquele a que assistimos quotidianamente como sintoma de fim de ciclo? Que tempos são estes?
 
Cynthia Guimarães Taveira
 

Sem comentários:

Enviar um comentário