Comparam-se estes tempos a quaisquer outros na História,
estudados, investigados? Comparar-se-há porventura se se tomar a perpspectiva
tão na moda de que os extraterrestes é que fizeram tudo por nós: pirâmides,
arte, engenho... mas se não tomarmos essa perspectiva como totalizante das
explicações para a totalidade de tudo, comparam-se estes tempos, a quaisquer
outros? Compara-se a nossa arte, o nosso engenho, a nossa quase ausência de
pirâmides a quaisquer outros tempos e atitudes? Como se na Era da vigilância
em nome da segurança aquilo que se produz é insegurança? Fórmula acrescida de sobrevivência da
Iniciação, como se algo nos dissesse, como num circo: “E agora, ainda mais
difícil, o número que se segue!”, quase como se exigisse um silêncio acrescido
ao já grande silêncio. Nos abismos da alma, dizem, vive o Espírito. E que alma
é esta que “agarrada” a televisões, aparelhagens, máquinas e fuzíveis se avaria
e desvaria num percurso que se tornou duplamente sinuoso como um labirinto
desdobrado. Não se anulará o Barroco a si próprio na dupla afirmação? Talvez
sim, talvez não, como resposta dupla, em sintonia com a pergunta. E que se
espera afinal senão esse acordo (re)conhecível como sempre se esperou? E hoje só será possível esse acordo se se adequirir uma dupla
sensibilidade? Talvez seja isto a evolução da espécie... ou talvez não passe de
um esforço desnecessário, como se se perdesse energia, ou antes, se deixasse
que a energia fosse para onde nem sequer faz falta. A duplicidade, para além da
condição da manifestação, tende a tornar-se quadriplicidade alterando os dados
do jogo, ou então, puxando-nos mais para além? Daí que quando falamos em
Tradição hoje, e tanta gente fala, de que falamos afinal? Comparam-se estes
tempos a quaisquer outros? Ou será necessária uma dupla atenção alterando-nos
assim a nossa condição uma vez desdobrados? Estará também aí, não só, mas também
aí, onde reside essa dupla atenção o Sebastianismo de Bruno, o Supra Camões de
Pessoa, uma das leituras da tri-peça de Bandarra, a voz dos poetas que vêem do
futuro, presentes já em crianças coroadas como imperatrizes? Ou será tudo um
dispêndio de energia, de facto, como aquele a que assistimos quotidianamente como sintoma de fim de ciclo?
Que tempos são estes?
Cynthia Guimarães Taveira
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