quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sorte


(Se me deixasse estar apenas

no bosque do silêncio,

contemplar sem acto sequer

de contemplar o encontro

com o bosque do silêncio


A única mudez permitida

é a nossa como escolha,

tudo mais falta ao encontro,

bate no vidro e vai-se embora)


Longe de todas as solidões, sequer,

nada como dantes vejo agora.

Sorte, se permitisses tu

que a música perfeita entrasse

por uma fresta da minha alma...


Sorte se permitisses tu

que do lado de fora viesse

no passo esperado da demanda

de quem a procura num sorriso...


Sorte se deixasses de ser sorte,

essa desvairada e aleatória,

e permaneceses no meu colo,

e deixasses de fingir que és

o inverso da justiça.


E deixasses de acontecer,

só porque tens de acontecer,

e deixasses de te perceber,

como a outra face

do desejo impossível...


Se fosses só um sim...

sem seres o sinal de uma outra coisa.

 
(Cynthia Guimarães Taveira)

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