quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O Cinismo da Esquerda


https://observador.pt/2019/02/12/a-debandada-em-bloco-dos-criticos-do-bloco/

Há uma esquerda em Portugal, nascida das estantes dos pais e das histórias heróicas daquele tempo de sombras cinzentas da Pide, crescida e regada a ideias bélicas de "combate" político, ensimesmada nos seus valores igualitários transversais a uma Liberdade que funciona sempre como utopia. Até lá, há que haver a ditadura do proletariado. O problema é que nasceu como uma reação à ditadura. A ditadura é sua mãe, e a liberdade, bem no fundo, não é desejada, é uma espécie de promessa em jeito de consequência natural do combate. Está, essa esquerda, sempre em combate, nunca em paz.  Nem a deseja, senão morre. Vive  e é o combate. E cega quantas vezes forem necessárias. E é inconsciente quantas vezes a consciência o pedir. Os tiques ditatoriais estão enraízados no mais profundo dos seus gestos: o que se deve pensar, o que se deve dizer, como se deve agir. O sentido de liberdade é outra coisa. A começar pela ausência de "partido". Só nos movemos livremente sem "partido". Só nos movemos livremente quando não trocamos a nossa cabeça pela do "grupo". Em Portugal, graças às anarquia inata, qualquer ditadura está condenada. Qualquer grupo está condenado. Qualquer partido é um episódio triste. A ditadura é a fraude da alma portuguesa. A democracia é a camuflagem resignada da anarquia. A anarquia é a condição da liberdade. E se tiver de ser interna e clandestina, é. Mas não deixa de ser e quando pode, vem cá para fora ver o sol. E o rei. E a luz. Quando pode.



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