domingo, 1 de setembro de 2019

O riso


Depos de ter lido mais um livro sobre a vida e obra de Leonardo Da Vinci fiquei convencida de que ele era, de facto, um "voyeur". Nos dias de hoje como seria a sua vida? Com tantas e tantas coisas para ver e para saber. No outro dia escrevi aqui que se ele vivesse hoje sucumbiria à especialização. Tantas perguntas que fez e tantas delas que já obtiveram resposta. Provavelmente virar-se-ia para dentro e exploraria o mundo dos espíritos, depois, esgotar-se-ia aí e prosseguiria até ao mistério final. Ou então, rir-se-ia com os paradoxos e morreria a rir. Uma gargalhada difusa seria ouvida pelas folhas das árvores que se agitariam, pelas brumas deslizantes, pelo correr das águas. Gioconda enfim solta a rir-se com seriedade do espectáculo do mundo. O que é o Grito de Munch ao pé desse riso? Nada. Esse Grito é um instante ínfimo, o riso dela é eterno. Não há mistério nenhum na evocação do horror e há todo o mistério na presença. A evocação grita, a presença sorri. E de verdade, na verdade, ri-se com toda a alegria que há para ter. Há mundos interditos aos adoradores do Diabo. Por mais que pequem... Mesmo que seja pecar por pecar. Esses, ao adorarem o diabo, criam o pecado. De raiz desenraizada. São fábuladores, pequenos meninos que contam a si próprios historietas de terror para adormecerem o seu espírito mais do que Católico e, por isso, prisioneiros do próprio tempo. O futuro? Ah! É todo outro. Suspenso num sorriso, aberto em riso de par em par. Leo-nardo, leão e nardo, o quão rico contínuas a ser, assim como Camões e Pessoa. O quão ricos são nessa leveza com que escrevem o mundo para lá de vocês mesmos. Além de vocês mesmos. De raiz enraizada.

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