quinta-feira, 25 de junho de 2020
Juntos somos mais fortes
Os farfalhudos eventos que faltam à conta de uma virose, são compensados pela desesperada chamada de atenção nas redes sociais (e socializantes, quer à esquerda, quer à direita). Aquela história do "juntos somos mais fortes", letra de lema e de canção que me enjoa até à náusea final, é, tal como suspeitava, um pau de dois bicos em dias em que os ajuntamentos se tornam ilegais. Mas, juntos na virtualidade, pensam os desesperados, continuamos a ser mais fortes, ainda que num mundo plasmado num ecrã, de bonecada de memes em fila indiana e de emoções amarelas taxadas e etiquetadas pela bonecada dos gostos, corações e afins e cuja existência na vida real é reduzida ao grande vazio da solidão que cada qual rumina em digestão semi-parada, nas sombras das selfies onde aparecem em eventos intelectuais ou nas Maldivas esticados em camas de rede, o que é exatamente a mesma coisa, com a vantagem de que nas Maldivas se pode tomar um banho em águas transparentes enquanto peixes (e não peixeiros nem peixeiras) passam na passarela de areia debruada a anémonas. Cada um para seu lado, acaba, estranhamente num "juntos somos mais fortes", do género canção do engate "estou sozinho e tu também, estamos juntos nisso". Não há melhor fotografia do que uma montagem com várias selfies. São os retalhos das vidas dos memes disfarçadas com o chantilly da pseudo-sabedoria e com uma anémona colorida na cabeça. O mundo tornou-se num terreno para pasto de idiotas vistosos. Qualquer tourada tem mais graça do que isto. Olé!
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