Sofro de mágoa daquela do abandono tão rica que é assim feita pelos que foram. E nessa mágoa grito como quem vende peixe e chocalho como quem sacode o tapete à janela e esse grito ecoa nas ruas e tremo por temer esquecê-la porque sem mágoa o coração não chocalha nem o seu grito se espalha. E eu quero que se ouça tudo bem ouvido, para que haja a passagem de testemunho da minha mágoa para os deuses e deles para os infames que me magoaram. O coração magoado só perdoa quando é ouvido e quando o seu chocalhar faz tremer os infames, tudo o resto é raciocínio claro, preciso e dado pelos ditames, onde é claro que o coração não arde em chamas, e, por isso, nem há perdão que se veja nem esquecimento que se contemple. A única justiça do mundo é o arrependimento dos infames no exacto momento em que o coração magoado é a flama da dor. Por isso, não me venham com ordens, nem jarreteiras, com sofismas e princípios, com lemas e lições, com ditos por não ditos, nada disso apaga a fogueira deste coração magoado só as lágrimas dos infames de arrependimento e bem colocado, no centro do ser onde, o testemunho dos deuses de volta, não traz a cabeça de Baptista, mas no lugar dela o cálice da dor dos enjaulados no seu orgulho tolo e cego de personagens de revista.
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