domingo, 9 de novembro de 2014

Fogo e fogo de artifício...



E quantas vezes os climas em que vivemos são apenas reflexo do macroclima geral? Nos últimos anos assisti apenas a divisões, fragmentações, desuniões, partidarizações, bipolarizações, tripolarizações e quadripolarizações... Na concha cada vez mais delimitada do indivíduo se fecham pessoas e ideias. São conchas firmes, construídas passo a passo ao longo dos últimos minutos dos últimos anos e até o diálogo visível entre molúsculos aparece com todas as probalidades de ser superficial... ou com uma intencionalidade...

Sim, assim anda a Europa também... a vai andar cada vez mais, num diálogo de superfície mantendo a aparência de que é imune a todas as crises...

E quantas vezes, o nosso microcosmos vibra com o cosmos e este com o macrocosmos?

Falo, provavelmente, vezes demais na urgência de se estar desperto para que da consciência do corpo se passe à consciência da consciência e que esta passe para uma consciência da consciência que é também a nossa circunstância.

Enquanto nos estupidificarmos como sociedade estaremos muito mais sujeitos à nossa própria estupidez  e a refugiarmo-nos ou num sentimentalismo adiposo de solidariedades que não curam as feridas (antes as beneficiam como placebos...), ou numa sensação de poder, igualmente adiposa, por conhecermos (antes de todos os outros, atenção...) todas as teorias de conspiração.

Tal é a descida vertiginosa que, por vezes, só conhecemos alguma subida em sonhos... na noite guardada para nós, contrabalanço sereno da tempestade... e quando só ela, a noite, inconsciente, nos seus sonhos de pêndulos compensadores são o último reduto de esperança, então, estamos definitivamente a dormir... porque até as noites se desejavam mais despertas... que dizer? São palavras, palavras que se escrevem, em tom de aviso e lamento... se corpo não despertar, se a curiosidade não surgir, se o descontentamento não nos agitar (e não estes falsos contentamentos tão na moda, tão falsamente espiritualistas... simulacros, apenas, camufladores de insanidades caladas...), se isso não acontecer... andaremos sempre a construir dias de fantasia e não chegaremos a tocar sequer as vestes da imaginação... quanto mais a fragância do espírito?

(Cynthia Guimarães Taveira)

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