E quantas vezes os climas em que vivemos são apenas reflexo do macroclima geral? Nos últimos anos assisti apenas a divisões, fragmentações, desuniões, partidarizações, bipolarizações, tripolarizações e quadripolarizações... Na concha cada vez mais delimitada do indivíduo se fecham pessoas e ideias. São conchas firmes, construídas passo a passo ao longo dos últimos minutos dos últimos anos e até o diálogo visível entre molúsculos aparece com todas as probalidades de ser superficial... ou com uma intencionalidade...
Sim, assim anda a Europa também... a vai andar cada vez
mais, num diálogo de superfície mantendo a aparência de que é imune a todas as
crises...
E quantas vezes, o nosso microcosmos vibra com o cosmos e
este com o macrocosmos?
Falo, provavelmente, vezes demais na urgência de se estar
desperto para que da consciência do corpo se passe à consciência da consciência
e que esta passe para uma consciência da consciência que é também a nossa
circunstância.
Enquanto nos estupidificarmos como sociedade estaremos muito
mais sujeitos à nossa própria estupidez e a refugiarmo-nos ou num sentimentalismo
adiposo de solidariedades que não curam as feridas (antes as beneficiam como
placebos...), ou numa sensação de poder, igualmente adiposa, por conhecermos (antes de todos os
outros, atenção...) todas as teorias de conspiração.
Tal é a descida vertiginosa que, por vezes, só conhecemos
alguma subida em sonhos... na noite guardada para nós, contrabalanço sereno da
tempestade... e quando só ela, a noite, inconsciente, nos seus sonhos de pêndulos
compensadores são o último reduto de esperança, então, estamos definitivamente
a dormir... porque até as noites se desejavam mais despertas... que dizer? São
palavras, palavras que se escrevem, em tom de aviso e lamento... se corpo não
despertar, se a curiosidade não surgir, se o descontentamento não nos agitar (e
não estes falsos contentamentos tão na moda, tão falsamente espiritualistas...
simulacros, apenas, camufladores de insanidades caladas...), se isso não acontecer...
andaremos sempre a construir dias de fantasia e não chegaremos a tocar sequer
as vestes da imaginação... quanto mais a fragância do espírito?
(Cynthia Guimarães Taveira)
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