quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A beleza


Os contemporâneos, os neo-contemporâneos, os pós-modernos, etc e tal... que me perdoem... Mas a beleza é fundamental.
Este gosto ou antes, esta perdilecção actual pelo desfigurado, pelo a-simbólico (porque o simbolo não é aleatório), pelo "tanto-faz" pressupõe uma mentalidade desordenada, inconstante, invertebrada. Mas pressupõe algo pior: a sujeição aos "conceitos" muito mais do que à harmonia visível da natureza.
Estamos a chegar ao fim da linha, ao grau gelo da imaginação, ao frio do Inferno.

Se tudo é um "lugar" mental, que lugar é este? Tão feio?
Se tudo tem um lugar no coração, que coração é este, sempre-absolvido pelos conceitos?

Gosto da subtileza de Guénon no seu livrinho "O Esoterismo de Dante" onde nos diz que uma vez estando no Inferno se começa logo a ascender, e atenção a este termo, "contornando" Lúcifer, o que, estranhamente, faz lembrar o Caminho da Serpente e seus "modos" descritos por Pessoa.
Antes de nos atirármos de cabeça para neo-cultos neo-pagãos em volta da serpente ou de fugirmos a sete pés agarrados à cruz mal se ouça a palavra "Serpente" convém atentar nestas subtilezas da linguagem... Que é simbólica.

Mas isso também é pedir demais nesta época-dormitório que, admitindo o paradoxo verbal, porque é moda ser Zen e Iluminado, não admite nada disso internamente. Nem pode. É uma época sem interior e como tal não há vida interior. Externamente, claro, somos todos "inclusivos", "pró-activos" e se formos distraídos, somos ainda mais: somos "artistas".  Ora, os artistas, são, por definição atentos.

Procurar o paradoxo neste texto é um bom exercício. Artístico e interior.


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