São rendas
De nada vale dizê-los
Se por tê-los
Pelo dia,
de novo, são vividos
Estávamos todos vestidos de amarelo
E foi contada a História dos primórdios do Egipto
E da Península Ibérica
Mas antes de tudo isso, estávamos nós
Vestidos de amarelo
Unidos por sermos imunes
À picada do escorpião
Tão próximos e tão longínquos
Tão certos
Pelo dia de novo tudo repetido
E ouvi alguém dizer:
Preferem a ausência da natureza
A ausência da Arte
E sobretudo, preferem a ausência
Do que não entendem:
O improviso.
Esta semente aqui guardada
É única no mundo
Ao ficar perdida num vão de escada
Os degraus que se seguem
São de madeira cansada e gasta
Quebrada em breve
Ou mais acima ou mais abaixo
A semente cai, e germina
Mesmo que aparentemente perdida
Da mesma maneira que há um fosso
Entre ricos aldrabões e pobres verdadeiros
Há um fosso entre a ignorância
E a sabedoria nessa semente
Vistos de longe,
São como cães
Procurando a cauda
Repetições sem fim...
Mas no sonho
Sem tempo
E verdadeiro
A serenidade
Era a frustração da ignorância
E a Virgem a única
Que sabia...
Porque mantenho o silêncio
Se me pedem que fale?
E porque falo se me pedem o silêncio?
Por causa desse amarelo vivo
Amarelo-ouro
Dessa Heliópolis
Semente sempre eterna
Aviso
Que da injustiça tudo sabe.
Aviso
Que devolve a justiça
Com a forma de uma serenidade
Impossível de capturar...
Aviso
Que Portugal parece subir
Mas desce sempre
Que perde uma semente
Num vão de escada
E que os degraus
Gastos e cansados
Que se seguem
Cedem à ausência de peso
Por ser tudo demasiaso leve
Sem natureza
Sem arte
Sem verdade
Sem improviso
Posso avisar
A partir desse sonho
Amarelo ouro
Imune ao escorpião
Quando saio de um lugar
Por ter sido perdida num vão de escada
Esse lugar cede
Apodrece
E cai
Como uma sombra que não indica a luz...
Já vi arrependimento
Mais do que em Madalena
Por o dela serem lágrimas de vida...
Mas o vosso
É daquele que suplica baixinho
Para que a semente germine
Só por dizerem que há uma ausência...
Se o disserem por sentirem
Se essa ausência for notada
Se não existir natureza, nem arte,
Nem improviso, nem verdade
Se só não percebem nada
A sombra, treva sem luz
Engolir-vos-á
Se sentirem uma ausência
Uma espécie de germe da Saudade
Que é coisa demasiado grande para vós
Então regressam como andorinhas
Se for ouvida
Essa súplica murmurada...
Se for rendilhada...
Se for verdade
Lá onde os solitários se encontram
Nessa Atlântida tardia
Amarelo-ouro
Fundo do mar azul
O orvalho celeste
Desce sobre vós
Entre vós e essa semente
Perdida num vão de escada
E vos unirá
Reunirá
De novo
Num rendilhado
Firme
Pesado
E transparente
Por onde o sol brilha.
Mas só de quem
Esse murmúrio
For ouvido.
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