segunda-feira, 15 de junho de 2020
O passeio
Na massa absurda de confusão sem fronteiras, de ebulições sem abluções, vou pela rua a passear o meu cão. Vamos os dois numa nuvem muito nossa, sem sabermos que somos psicopompos um do outro. Eu o dele por aqui, ele o meu por ali. E sabe bem a frescura do encontro. Sabe bem olhar para o que pintei e saber que permanece, como todas as flores que fui permanecem, exactas ou ao vento tanto faz, e que a massa absurda de confusão, embora sem fronteiras, não alcance a mais distante que é esta nuvem onde vou eu e o meu cão, alegres e em paz sem que seja necessária qualquer ablução. Olhamos lá de cima para um mundo que se tornou, ou ridículo ou motivo de compaixão sem outra coisa que não seja isso, e olhamo-nos nos olhos, ora rindo, ora tristes, conforme os vultos, alguns cultos, que por nós passam, sem poder fazer nada porque ainda nos confundiriam com fantasmas por não nos verem, embora estejamos vivos e sejamos psicopompos um do outro.
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