terça-feira, 4 de outubro de 2022

Os iluministas dos símbolos



 Este problema, porque é um problema, de não se ultrapassarem os símbolos é paralisante. E o problema segundo é que os mesmos só são ultrapassados intuitivamente. Só depois de ultrapassados deixam de ser inumeráveis para passarem a outro nível, capaz da maior perplexidade a quem nunca os ultrapassou. Assemelha-se, esta mutação, à passagem do Iluminismo para a Época do Paraíso em que tudo se cala à nossa volta e os símbolos começam, finalmente a falar por si próprios e não por nós. É por essa passagem ser hoje muito raramente feita que vivemos numa época de manipuladores. Os manipuladores manipulam símbolos sem lhes conhecerem a vida (senão nunca o fariam por tal coisa ser impossível). Vivem no tempo contínuo, no cerne do rio que corre e das ilusões que transporta pensando dirigir-se para o mar dos símbolos, o seu paraíso imaginado possível, onde pensam poder "pescar" qualquer um e colocá-lo à sua disposição. Nunca quebraram nenhum símbolo e muito menos os quebraram a todos para ver o que contêm lá dentro... Porque se lhes retiram os símbolos, retiram-lhes o poder, ou antes, a ilusão de poder. No Paraíso, os símbolos nunca são bem a mesma coisa pois todos eles tendem para o Uno. Mas não são bem a mesma coisa, não devido a uma qualquer tabela de significâncias inseridas em contexto vários, isso é permanecer no Iluminismo dos simbolistas. Não são bem a mesma coisa porque, em si, estão em permanente movimento (é por isso que são fonte de inspiração) e acompanham nitidamente o movimento incessante da alma... Como os pássaros acompanham o barco. Ao contrário do que se pensa, nesse mar de símbolos, peixe e pescador confundem-se e a predominância de um sobre o outro é inexistente. É por isso que certos diálogos se tornam inexistentes, também. Os iluministas falam uns para os outros, os paradisíacos comunicam, sem palavras, uns com os outros, porque já ultrapassaram os símbolos. 

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