quinta-feira, 9 de maio de 2019
Por outras palavras
No último texto "As Religiões são paixões", não digo nada que muitos já não o tivessem dito. Mal de mim se quisesse inovar nestes assuntos e a única originalidade possível é a da origem. No entanto, as cartas, sendo as mesmas podem ser baralhadas o que quer dizer que uns andarão, na interpretação, mais baralhados que outros. Podia desenvolver um espólio escrito sobre as agruras pelas quais este mundo passa, tal como está, mas seriam longas cartas de lamentos, coisa que aqui e ali vou fazendo por ser inevitável. Hoje estava a percorrer os canais de televisão e vi qualquer coisa sobre armas nucleares e o Irão. O mais chocante é a leveza com que se fala de tudo isto. Tive uns críticos "iluminados" que acharam por bem dizer-me, ou mandar dizer-me, tal a cobardia, que "havia determinadas coisas que eu não deveria dizer", escrever, entenda-se. Evidentemente que sem pedidos de desculpas e explicações não falo a essa gente. Parece ser legítimo, no entanto, falar-se nos telejornais de armas de destruição em grande escala com a mesma leveza com que se fala da mais recente exposição de Joana Vasconcelos que é, de facto, um tema leve até porque a artista faz coisas muito leves e etéreas que nada acrescentam ao mundo... Mas as armas nucleares não são leves e tudo retiram ao mundo. As coisas devem ser faladas (ao contrário daquilo que os iluminados dizem), depende é do peso que se dá àquilo de que se fala. A televisão conduz-nos à distância da guerra. O Irão fica longe. As armas ficam longe. Fica tudo longínquamente fechado nas placas achatadas que são hoje as televisões. As religiões são paixões e levam a actos tresloucados. Outra paixão da moda é o dinheiro. Não falo do dinheiro normal. Falo daquele dinheiro que leva as pessoas a quererem sanitas em ouro, jactos, ilhas, praias, países até. Esse tipo de paixões tresloucadas e que unidas às religiões só têm contribuído para a ilusão de "poder". Até um determinado momento "Deus quer isto e aquilo, ou Deus quer que eu faça isto ou aquilo", dizem os tresloucados. Se calhar a serem muito ricos então acrescentam que "Deus ou eu", já não se percebe bem a diferença, "quer que eu tenha isto ou aquilo" e tudo desagua no oceano do "poder" onde, sem perceberem nada de navegação pelas estrelas (porque nunca olharam, de facto, o céu, embora achem que sim), rapidamente se afundam e se dão conta de que o tal poder é o da força da natureza que não tem a mínima paciência para a ignorância desse tipo de criaturas. As armas nucleares só servem para destruir e por várias gerações. Não servem para mais nada. Não são elas que nos vão dar lições sobre uma ciência que, à partida, já conhecemos e a Lili Caneças também: "estar vivo é o contrário de estar morto". O além, por seu lado, não fica numa placa quadrada chamada televisão. Fica além e, quando fica mesmo perto, digo mesmo perto, as coisas mudam de figura. O além não é uma auto-sugestão embora as religiões insistam nos castigos e nas recompensas elas nada sabem dos castigos e das recompensas. Dizem umas coisas que "acham" fazer sentido. É assim que encontramos o fogo do Inferno para os danados e as recompensas para os mártires. Dizem essas coisas. Depois os crentes também dizem porque "ouviram dizer". É o chamado "Espírito Santo de orelha". O mesmo, mesmo perto e que pode estar mesmo, mesmo além, é outra coisa. Desse ninguém pode falar porque não há palavras. Não há mesmo palavras. Não são "visões", não são "intuições" que os místicos mais elevados possam ter e possam tentar descrever. É mais do que isso. É mesmo, mesmo perto. E quando não está mesmo mesmo perto, está mesmo mesmo distante. Julgam-se os homens radicais... Extremistas... O "mesmo" deles é coisa nenhuma face a outros "mesmos" com que tanto gostam de encher a boca e debitar postas de pescada para ver se "ganham" uma qualquer recompensa, seja na terra ou depois de lá terem estado. O mesmo, é mesmo e não é esta fantochada de jogos de interesses. O único comércio admissível é o "pequeno comércio", todos os outros, religiosos, económicos ou de jogos de poder estão condenados a, mais tarde ou mais cedo, terem um encontro com aquilo que é Mesmo. Ou por presença ou por distância. E nessa altura, outra linguagem, completamente diferente, é posta a circular. A circular, não a comercializar.
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