O que mais aprecio e admiro nos impassíveis (que normalmente afirmam e fazem questão de afirmar que são impassíveis para todos nós ficarmos a saber que eles são impassíveis) é o facto de terem conseguido ir mais longe do que Lao Tsé que afirmou:
"O calmo é o senhor do inquieto", com toda a ambiguidade da frase.
Também admiro que tenham conseguido superar a dificuldade de Fernando Pessoa quando afirma:
"Ser descontente é ser homem."
Tenho uma grande admiração pela quantidade de afirmadores da "tranquilidade universal", da "paz profunda". Mesmo que sejam humildes e respondam quando confrontados:
"Oh, não, não! Procuro-a, afirmo-a, mas não, pobre humano que sou, nunca a alcancei. Quanto muito, momentos, momentos apenas..." e ficam com um olhar vago, longínquo como se olhassem para uma memória de infância ou recordassem um belo pôr-do-sol. E podem ainda acrescentar: "... o que quis dizer é que devíamos tender para essa impassibilidade, para essa tranquilidade de espírito, para essa superioridade de carácter, é só isso."
Admiro-os sinceramente. A facilidade com que pegam na sabedoria de Lao Tsé e na frase de Fernando Pessoa é notável! Nunca escreveram ou escreveriam algo que se assemelhasse a tamanha heresia na "religião dos impassíveis" ou no "rosacrucianismo" que é tão lindo e até têm rosas e tudo para compensar a dor. É espantoso como transformam o símbolo rosa-cruz na coisa mais pirosa de que há memória. Transformam-no em "Pax Profunda" e até levantam a mão ou a levam ao coração. São tão lindos. Todos. É cá um ramalhete! Lao Tsé e Pessoa é que eram uns anormais, está-se mesmo a ver!
Sem comentários:
Enviar um comentário