sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O pão que o diabo amassou



Os textos incomodativos procuram colocar o dedo da falha sísmica antropológica sobre a qual assenta a nossa civilização. Observar que o mecanismo de ascensão social se efectua, cada vez mais, a partir da projecção de uma imagem e sua respectiva publicidade tendente à propaganda, é tão simples como uma criança constatar que a água está quente ou fria. Dizer que essa é uma pseudo liberdade quando se projectam imagens, independentemente da qualidade que tenham, é constatar a ausência de critérios sendo o único a projecção dessa mesma imagem. No fundo é o que se passa também com as chamadas "artes plásticas". Não é o objecto que tem destaque, é o espaço que dá destaque ao objecto independentemente daquilo que o objecto for. Esta regra muito simples da arte contemporânea, a da valorização da localização em detrimento da qualidade do objecto tem o seu início e o seu fim no próprio ser humano. Um rei por entre os mendigos, é um mendigo, um mendigo por entre os reis, é um rei. É o contexto que acaba por mascarar o ser. O espaço já não é um "ideal" mas o próprio objecto em si. O ser dilui-se no objecto que é o espaço. O ser desaparece, resta o espaço. A desertificação e a tendência para a desertificação é apenas um reflexo da auto-destruição dos seres. A identidade das plantas dá lugar à identidade dos minérios. As areias, as rochas não são mais o lugar das plantas, o seu habitat. As plantas são a nossa origem humana. A árvore é a da vida e a da ciência. E a árvore é o nosso alimento. A árvore é também o fruto. De facto, um homem sem pão não é livre. E não é livre aquele que nega a inteligência, a sabedoria e o céu. À sua volta, o deserto sem seres. O lugar lúgubre das tentações. A primeira das quais e a última também, a da ignorância.

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