Independentemente de ser contra todo o vandalismo não posso deixar passar despercebido (não há blogue mais despercebido do que este) este facto estranho que parece transversal à auto-denominada arte actual. Diz Pedro Cabrita Reis que a sua obra "A linha do mar" é arte porque ele diz que é arte. Ora, quando a arte precisa de muitos argumentos torna-se na arte do argumento. Em princípio seria assim. Mas tomados do vazio interior que demonstram nas suas obras, determinados contemporâneos, levantam o queixo e dizem com orgulho sobre a sua obra: "É arte porque eu digo que é arte". O argumento é este em definitivo. E depois, tal como a Joana Vasconcelos, vem defender-se acusando os Românticos que pensam que a arte vem do sofrimento, patati, patatá. Não querem sofrer e até compreendo isso. Quem é que quer? Ou seja, eles dizem o que é a arte e desdenham os "Românticos". O grau zero da argumentação. O grau máximo da ditadura (evidentemente que normalmente são todos democraticos, pudera, é a democracia que os suporta). Quando não há argumento maior do que a vontade é muito natural que surja a antítese espelhada e a legitimidade dela, e eu assumo-a totalmente quando posso dizer: "Pedro, isso que dizes ser arte, não é arte porque eu digo que não é arte." Da mesma forma, igualmente, auto-opinadamente. E da mesma forma que o artista pega em meia dúzia de barras de ferro e tapa a vista do inocente, o inocente, tira as barras da sua frente para poder ver a vista. São todos inocentes porque "não sabem o que fazem", isto citando Cristo. E não sabem mesmo. Bem, economicamente falando o que se passa é uma luta de classes. Pedro Cabrita Reis dispõe barras de ferro como Maria Antonieta comia brioches... Pedro Cabrita Reis é, nesta história, sob o ponto de vista económico, a Maria Antonieta. É natural que o povo pense na guilhotina. Quando a aristocracia decai, o povo também decai. E dão-se as Revoluções que são sempre radicalizacões repetidas até ao infinito. Os artistas decaem de duas maneiras: porque a sua obra precisa de argumentos e porque não têm argumentos. É paradoxal, mas é verdade. É a diferença entre o vazio-vazio e o vazio-cheio isto se se colocar as coisas sob o ponto de vista das filosofias orientais, o que nem é preciso. De maneira que, vivemos num mundo cada vez mais desfigurado. O Bacon havia de adorar... Ele que pintou caras a desfazerem-se como se fossem cera derretida caminhando rapidamente em direcção ao vazio. E já lá chegámos, Bacon, para teu júbilo! "É arte porque eu digo que é Arte!". Querem maior vazio? É tão vazio como um sinal de trânsito a comparar com um símbolo. Exactamente. O símbolo está para os criadores como o sinal está para os ditadores. Mas como sabemos, não há pessoal mais democrático do que este das artes contemporâneas e são tão tolerantes, mas tão tolerantes que a primeira pessoa com quem são tolerantes é para com eles próprios o que é, francamente, um mau começo para se iniciar uma obra. O início da ruína do edifício. A pedra rejeitada, não deixa de ser rejeitada. A tolerância não existe no começo da obra. Está a ser difícil, acompanhar-me, não está? Bem vindos ao universo da Arte. Da Verdadeira.
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