sábado, 16 de janeiro de 2021
Pena e espada
Mais depressa um filósofo pega numa espada do que num pincel e daí que, embora goste de deambular, sem eira nem beira, pelos corredores da filosofia e dos filósofos, o meu verdadeiro entendimento tenha sido sempre com artistas à moda antiga. Grandes e enormes bibliotecas do tamanho do mundo podem esconder vários tipos de homens, os mais inseguros, mais tarde ou mais cedo, pegam numa espada e, os mais capazes, mais tarde ou mais cedo, colocam os livros de parte e entram pelas portas da iniciação voltando aos livros, se for caso disso, para os relerem com outros olhos. O universo artistico pertence a outra dimensão onde ossos, sangue, nervos, suor, lágrimas e o coração ao centro, possuem o valor fundamental da matéria prima. As ideias são apresentadas aos artistas de uma forma diferente daquilo que são apresentadas aos filósofos especulativos e são indissociáveis da Iniciação, ou seja, do conhecimento de si próprio, do seu papel no mundo, do conhecimento de aspectos da Verdade, impossíveis de conhecer de uma outra forma e, o modo como tudo isto é apresentado, torna-se estrutura do próprio artista que, de antemão, é um ser preparado para receber certos conhecimentos. É assim que se pode falar dos "artistas à moda antiga" como aqueles que são terreno fértil para a Arte da Iniciação, os restantes que polulam em cada vez mais áreas e em cada vez maior número, não lhes sendo apresentado este caminho ou não o reconhecendo quando o encontram, são os artistas à moda moderna que preenchem todos os espaços visíveis actualmente e que podem ter conversas interessantes tendo como tema sempre e única e exclusivamemte, este mundo, nunca outros ou o Outro Mundo, mantendo-se os mesmos, do nascimento até à morte. A Filosofia Portuguesa está cheia de filosofos de espada levantada, defendendo os seus ideais com a garra dos guerreiros, seja defendendo o seu território de especialização, seja defendendo as formas religiosas ou as instituições religiosas que lhes permitem filosofar. O terreno da Filosofia Portuguesa é um campo de batalha, raramente um campo iniciático: apenas Dalila Pereira da Costa e António Telmo ousaram ir um pouco mais além. O pragmatismo de Agostinho da Silva tornou-o numa espécie de animal híbrido, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, elevando-o à condição de Mestre pelos inquestionáveis monólogos que estabelecia com os interlocutores. Dalila P. da Costa e António Telmo nunca foram Mestres, foram Iniciados e se atrairam pessoas foi por causa da inevitável força centrípeta que a Iniciação confere, força essa que é também uma fonte de aprendizagem nomeadamente da forma que cada um encontra para a controlar. A arte é um caminho mais directo e o reconhecimento entre artistas, tanto da obra como do Ser, é menos enganoso ou menos ilusório. Para não dizer mesmo, nada ilusório. Alguns filósofos tendo caído na tentação da Espada apressam-se a evocar a Via Guerreira Iniciática. Surgem então uma panóplia de Novos Fiéis de Amor que são puros enganos no desaguar da filosofia. Evocam Dante e Camões como exemplos. Dois Homens da Arte. Exclusivamente da Arte (Camões ficou conhecido como Poeta, não pelos seus grandes feitos guerreiros que o levaram, aliás, a perder um olho... bastante simbólico), puros artistas e por isso Iniciados. A Filosofia acaba quando começa a Iniciação embora a Iniciação carregue com ela a Filosofia porque a adquiriu pelo caminho que conduziu à Iniciação. É muito "perene", sabemos, mas é assim. A Iniciação guerreira exige uma determinada preparação física que não penso que os filósofos tenham. É uma forma de Arte e uma forma de Arte Específica e, sendo assim, nasce-se guerreiro. A guerra implica o sofrer da batalha, com mortos e feridos. Não é uma brincadeira virtual nem um filme americano. A Indústria Templária consistia em ter Guerreiros ao serviço dos Artistas. Pelo meio ficava um sacerdócio como capa. A capa dos monges guerreiros. Efectivamente, erguiam templos mas, no âmago, estava a Arte. A confusão de hoje é pensar-se que a Arte é dispensável. Que, por exemplo, se pode estimular a mente a sonhar. Quer seja a dormir ou acordado. Ora a Arte não é um sonho. É bastante palpável. Não é um jogo de interpretações sobre os desaires oníricos. É muito mais precisa do que isso. Ela vive da Revelação. A Hermenêutica tem a sua base de entendimento entre homens diferentes, provindos de culturas diferentes, exactamente pela Revelação que está para o Sonho como os artistas à moda antiga estão para os artistas à moda moderna. O sacerdote é um Xamã não assumido. Necessita da Chama acessa mas não trabalha com a Chama. E se trabalhar então, é um Artista. É desta forma que o topo da hierarquia, toca a base da hierarquia. Pode tocar. Um sacerdote, já morreu, um guerreiro ainda não morreu, um artista vai-se libertando da "lei da morte".
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