De quando em vez, neste mundo esotérico único que é o português actualmente, aparecem uma cabeças preocupadas, se não mesmo perdidas, com a banalização do conhecimento. Nas suas cabeças extremamente confusas confundem, conhecimento, sabedoria e ainda Iniciação. O adjectivo "banal" é impossível de conjugar com a palavra "conhecimento" e isto porque nada têm em comum. Até mesmo o conhecimento geral, é geral, não é banal. Também a sabedoria, por si mesma, não é banal, nem é geral (antes fosse) e a Iniciação, por definição, é Individual, ou seja, é diferente para cada ser humano e até mesmo a Iniciação de Portugal é individual face aos restantes países. Tanto ouço este princípio do horror à banalização do conhecimento que me convenço que vivo no filme "Stargate": meia dúzia de eleitos preferem manter as crenças irracionais das massas de maneira a permanecerem eleitos... e tudo é, afinal, uma questão de política, apenas uma forma de manutenção do poder e do respeito adquiridos à conta de um conhecimento que dizem possuir. É uma forma de preservação do território. Curiosamente, são os mesmos que possuem este horror à banalização que, no alto do seu pódio de palestras, vêm dizer depois ao público que deles se aproxima, que o conhecimento é coisa muito importante e que deve ser divulgado (o que tentam fazer nas palestras) e que, naturalmente, eles o detêm, mesmo quando dizem que não o detêm. Um laço solto é lançado por cima do público, dando-lhe alguma margem de movimentos mas não deixando de o manter aprisionado... Os palestrantes só o são por causa do publico que os ouve. Também confundem conhecimento com segredo. Bem, na maioria das vezes não confundem, estão cientes de que se disserem que possuem um conhecimento secreto, mais pessoas atrairão para o seu pequeno núcleo. Ora não é o conhecimento que é secreto, são os homens que o tornam secreto ou não. É um pouco como os símbolos da raspadinha antes de serem postos a descoberto. Os símbolos não são secretos. Estão à vista de toda a gente e o segredo está única e simplesmente na cegueira que temos perante eles e na incapacidade de os interpretar. Os mesmos que falam na banalização do conhecimento falam dos "vários níveis de leitura" dos textos sagrados. O princípio é sempre o mesmo: o texto é desvendado segundo a capacidade do leitor. O que se passa é que os palestrantes sentem que têm a missão de ajudar o leitor a ler o texto. Sentem que já conseguiram entender mais do que o público e, em simultâneo, dizem que aquilo que entenderam não deve ser "vulgarizado", não deixando, no entanto, de o "vulgarizar", segundo as suas próprias palavras, sempre que abrem a boca. O convite à sua própria interpretação não deixa espaço para dúvidas: querem discípulos. Querem ser uma voz marcante no percurso dos que os escutam... e porquê? Nunca hei-de perceber. Talvez confundam memória com eternidade. Enquanto alguém se lembrar deles, não morrem.
Ontem ouvi a notícia de que em Inglaterra, no Ensino, os erros ortográficos vão deixar de ser motivo de correcção ou de penalização... porque, coitados dos petizes, não têm cabeça para isso. Estão embrenhados na novi-linguagem visual virtual e pedir-lhes um texto com cabeça tronco e membros é pedir muito.
Em vez de se preocuparem com a "banalização do conhecimento", que só existe na cabeça deles, deviam preocupar-se com a banalização da ignorância e aí o jogo ficava muito mais franco. Chamo-lhes de "esotéricos" e não de "esoteristas" porque é quase preciso tirar um curso superior para desmontar as fantochadas que vão lançando ao público. Eles são esotéricos apenas porque são passíveis de interpretação, de desocultação e de desmontagem. Os esoteristas, em si, já não existem em Portugal, ou seja, aqueles que se dedicam ao estudo das coisas menos visíveis, pelo simples interesse nessas coisas sem qualquer preocupação com a existência de um discipulado. E se existem, ninguém os vê. Tal qual o seu objecto de estudo.
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