Há já muito tempo que a ciência, por mais livros muito interessantes que surjam a dizer o contrário, está apenas e unicamente ao serviço da tecnologia. Já parte, aliás, nas suas "descobertas" (que são sempre parciais porque não contemplam a intervenção de outras dimensões e, quando contemplam limita-se a observar os efeitos, quantas vezes com respostas apressadas a esses mesmos efeitos) do princípio que, mais tarde ou mais cedo, a "descoberta" (que na maioria das vezes é apenas o último culminar de um qualquer mecanismo - Descartes deve estar a esfregar as mãos de contente), irá ser útil, para isto ou para aquilo. Esse tipo de espirito científico está até presente nas "aplicações práticas" da suposta espiritualidade, quantas vezes confundida com simples medicina do corpo ou da mente. Bachelard afirmou, na sua epistemologia, que o conhecimento científico é feito pelo erro, pela correcção do erro e pelo vindouro erro que em seguida se irá corrigir. Falava ele em termos teóricos. A tecnologia apressada veio a fomentar a ciência apressada de maneira que é uma ciência, ainda cheia de erros que é aplicada imediatamente na tecnologia, por causa do lucro (e nada mais) que fica contagiada por esses erros. Há uns poucos dias, esse apetite pelo lucro conduziu a uma afirmação tão estúpida quanto um cientista pode ser: "queremos ver as universidades (que se dedicam à ciência) com pessoas com cabelos azuis". Isto porque querem inserir, nos cursos de ciências, cadeiras "criativas", "artísticas" de maneira a fomentar a criatividade dos jovens estudantes e (isso não disseram) a tornar a ciência e os seus resultados práticos, ainda mais competitivos e geradores de maior lucro. Só de facto um especialista, já acocorado numa qualquer especialidade na sala do saber, estará prestes a saltar (Caim estava acocorado quando deu um salto e matou Abel - ou seja, a animalidade é algo que está acocorado sempre prestes a ser despoletada) para tentar um último golpe, qual Da Vinci perdido em máquinas de guerra... para o tótó (que não tem outro nome) que disse tal frase, ser artista tem um sinal visível (na ciência tudo tem de ser observado, medido), e esse sinal é o cabelo azul... nem um adolescente cai nessa armadilha tão depressa, soterrados, que estão os jovens, em bandas desenhadas que viram na infância com visuais excêntricos. Diz-se que Leonardo levava sempre a Gioconda com ele e que, de vez em quando, lhe dava umas pinceladas. É a vantagem de um génio. Por dentro da Gioconda podem estar imensos estudo de cadáveres dissecados para melhor compreender a anatomia humana ou a forma como um ser humano sorri... no entanto, aquelas pinceladas, a técnica do esfuminho, estão já noutra dimensão. Uma dimensão que já nada tem a ver com a ciência, a dimensão onde o espírito e a matéria se cruzam, algo só acessível aos génios e artistas e não aos génios e cientistas. Nesse mundo espiritual, a intenção é o mais do que tudo - isto é desconhecido pela maior parte das pessoas - e partir do princípio de que os cientistas deverão desenvolver a criatividade artística para produzirem melhores resultados que depois serão imediatamente aplicados na tecnologia, é obra do diabo. Sim, do diabo que quer enganar Deus e não consegue nem vai conseguir nunca. Se estudassem um bocadinho deveriam saber que o efeito já está na causa e essa é a pedra de toque com a qual a ciência, tal como está e como anda, nunca descobrirá. Vivemos num mundo físico e químico balizado pelas estruturas espacio-temporais, no entanto, ele só assim se mantém, não por causa da termodinâmica (isso é um sub produto), mas sim porque o Espírito o mantém. É por isso que os efeitos da ciência, que se comporta como uma menina mimada dentro de um palete vazio e desalmado, tem sido o prolongamento da vida triste humana, do seu lado mais desolado, perdido, fragmentado, ausente, ignorante e por aí fora. Conseguem o prolongamento da máquina, mas não do espírito e daí que o seu sonho esteja com os robots ou uma mistura de humanos e máquinas, ou do reino vegetal (que contém o mineral) e animal, híbridos longe do espírito, facilmente manipuláveis a uma vontade que lhe é superior, humana (tal como o ser humano é entendido pela ciência e não com a carga espiritual que lhe é inerente) ou seja, exactamente o oposto do Espírito que se move num reino que se situa para além da física, da química, do espaço e do tempo e que, por isso, possui doses de liberdade extra (daí que sopre ou seja um sopro), totalmente incapazes de serem alcançadas por este pensamento científico tal como se encontra actualmente devido, exactamente, à tão menosprezada "intenção". Outro problema com o qual se depara esta "brilhante" ideia dos cabelos azuis nas universidade é aquele com que hoje nos deparamos: todos são artistas, criativos e projectam uma imagem de criatividade, de "conseguimentos", de variedade de formas e de cores... E nunca ouve tão pouca arte como nestes dias. É o paradoxo mais genial concebido pelo destino dos povos e a prova provada de que a Arte é, não apenas o resultado, como todo o processo, do berço até à glória. E não há maior prisão do que esse processo e não há maior liberdade do que essa glória. E conseguem coexistir. Fundir-se até. O paradoxo actual é o de se conseguir um resultado sem se passar pelo processo e daí que tudo nos pareça um milagre. Mas é de plástico. Como de plástico é uma geração que cresceu agarrada aos computadores e ao espírito cientifico e que pinta o cabelo de azul e que frequenta umas aulas de escrita criativa e cumpre com o que lhe dizem para ser e nunca, mas nunca, ouve o seu próprio coração, a sua voz interior, a única que está perto do Espírito... No oriente, os discípulos de qualquer arte, esperam dias, meses, anos a fio para serem recebidos em casa do mestre. Faz parte do processo artístico que é um processo cosmogónico. Reparem na diferença. Não é pequena. Logo, desde o início, o espírito tem de estar na matéria, senão não aguenta. Desiste de bater à porta do mestre e vai-se embora. Pensar que a criatividade é banal é pensar que a arte é banal. Ela só é gratuita porque é uma dádiva do Espírito. Sem isso não há nada. Ela não é gratuita porque se pode frequentar aulas de criatividade, ainda por cima com más intenções ou antes, com as intenções erradas... como vêem tudo começa no começo e não no fim, porque no processo artístico, os meios não justificam os fins e os fins não justificam os meios. Estão unidos desde sempre, por toda a eternidade, não se auto-justificam. São um só. Foi com uma gargalhada misturada com um esgar que li a história do cabelo azul. A ciência sabe mesmo ser estúpida quando quer e quando não quer. E erra muito. E não, não é Deus. Isso queria ela... e quer convencer todos. E muito já a olham como se o fosse. E obedecem, como escravos. A arte é outra loiça. São luvas de pele de tigre nas mãos de uma donzela. Sempre prontas a saltar. Acocoradas, e prestes a acariciar Deus.
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