quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os bobos

 


Notas: nesta época caótica nada há a fazer a não ser assistir ao caos. Vejo aqui um pendor contemplativo, ainda que "ser diferente" seja uma forma de acção, submersa tal como o território Português, na sua extensão, se encontra maioritariamente submerso e há uma certa tranquilidade nessa contemplação ativa que resolve conflitos em vez de os estimular.

Outra Nota: o infantilismo leva a que se olhe o mundo, não com olhos de criança, porque estas estão apenas agraciadas pela constatação, mas com olhos deturpados e postiços provindos da mira de um qualquer boneco da Disneylândia, o equivalente a palas nos olhos. É graças a esse olhar, tresmalhado, que assistimos a virtuosos intelectuais, autores de biografias de Pessoa, a apelidá-lo de alguém que nunca cresceu. Ao contrário de alguns "cérebros iluminados" (devia ter colocado mais aspas, duas só não chegam) que logo apareceram com as sentenças de um novo Papa do Oriente que lhes escapa e desadaptadas à situação e pactuando assim com os intelectuais do Regime (que pelas costas tanto condenam), convém reafirmar que quem profere tais palavras sobre Pessoa, se encontra na esfera do fantástico e não da Realidade. Não há riso nisso, há a tragédia profunda da decadência. Se não vivêssemos na Era da Decadência, não seria necessário "ser diferente". E é necessário sê-lo. Aos tolos o que é dos tolos, e assim é, e aos diferentes aquilo que é para eles, e assim é. Na época da inversão das coisas são os infantis a infantilizarem os adultos e só os tolos, que nunca são adultos, confundem as crianças com o infantilismo desta época. É obra: tamanha confusão. A tragédia desta época é rir-se de si própria. 

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