quarta-feira, 11 de maio de 2022

Zenith e Nadir

 

Pois não, Fernando Pessoa nunca cresceu porque já nasceu Enorme, ao contrário dos caça-fantasmas que continuam a circundá-lo e a dizer disparates sobre ele. Não ocorre, a quem diz estes disparates, a seriedade da sua obra, encarada como mero jogo/brincadeira infantil? É uma estranha criança que deixa uma obra tão vasta que ainda está a ser descoberta, que deixa imensas questões na mente de quem o lê. A Universalidade de Pessoa, segundo este pensamento reducionista que minimiza, em jeito paternalista, aquele que é maior que ele, remeter-se-á para o conjunto de pessoas infantis que se revê na sua obra. Lê-lo, compreendê-lo, seria então entrar num plano meramente lúdico e o Universo, que é antigo nas suas ramificações e planos vários (no duplo sentido da palavra),  passaria a ter cinco ou seis anos com as ligações cerebrais ainda em estado de cartilagem gelatinosa. É sempre fácil cair na tentação de achincalhar quem se admira ainda que sob a capa da "compreensão". A quem chamará de "crescido" Zenith? Muito provavelmente a alguém que se situa na esfera da ciência com pretensões à ciência exacta. A esfera da imaginação, do onírico é tão infantil como a vida concreta e abrutalhada dos nossos dias. O infantilismo da época não é a melhor atitude para se julgar o carácter e a grandeza do poeta. Haveria Zenith de passar apenas por uma experiência metafísica experienciada pelo próprio poeta para que ficasse com os cabelos em pé, agachado como uma criança debaixo da mesa da sala, a coberto da toalha adamascada...  Incrível é a inversão das coisas: as editoras obrigam os escritores a ajoelhar-se e os pequeninos afirmam a pés juntos que os Grandes são ainda mais pequenos do que eles próprios. É caso para dizer que tanto fascínio pelo poeta o conduziu à loucura, porque só um louco vê na imaginação o "amigo imaginário" e a crença em entidades superiores como sendo a crença no Pai Natal que traz presentes. Não impera a inteligência, logo a começar pela ideia de que a biografia de Fernando Pessoa explica a sua poesia ou em que a sua poesia explica a sua biografia conforme vá dando jeito ao narrador. O lamaçal assim descrito impõe a firme convicção de que as palavras do poeta são hoje o que menos importa, quando é precisamente isso que o torna Grande e não infantil. Mas numa pequena época como esta, as identificações não vão além do Ronaldo, esse sim, grande, com os pés bem assentes na bola. Desse ou de um cientista que avance com a cura para uma doença qualquer sendo que esta última irá ser imediatamente substituída por outra porque o mal é a falta de Espírito das vacas a olhar para o palácio. O que vale é que não há biografia que valha a sua obra. Venha mais uma. A obra do poeta permanece, pairando acima da incompreensão. Total, pelos vistos. 




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