A razão pela qual a filosofia sistemática, tanto francesa,
como alemã, não nos são convenientes, a nós portugueses, com modos de filosofar
próprios, reside no facto de, por genética, herança cultural e chamamento,
termos entendido que é tão importante conhecer por dentro os estados de alma de nós e dos
outros, como entender o mundo pelo intelecto. Essa nossa natureza de pensamento
gera, inevitavelmente, a saudade como causa
de percepção, não totalmente idealista, de que a filosofia só se cumpre,
verdadeiramente, na acção. É dentro dessa tensão, que por constante e que por inevitável, que a
filosofia portuguesa é um dos suportes (totalmente indispensável) da nossa espiritualidade que nega as
autoestradas para Deus, a espiritualidade destituída de pensamento, um pensamento vazio dos
outros, e que autoriza, como um respirar, todas as ondas do mar. Semelhante a esse mar, de facto, só o céu.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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