quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Satie










Nave, asa única do anjo
na subida densa,
leva-te pela mão devagar,
passos à frente no espelho do futuro.
 
Disseste quem eras quatro vezes,
e das quatro uma quinta nascida,
última , segreda-te o segredo
da rosa ardente no beiral...
 
Mais à frente, asa do anjo
de pétalas vermelhas vestido,
diz já teres visto a beleza
da cabeça da criança acordada,
vinda do outro lado,
como dum outro poema nascida
 
Olha severa e sorri:
Não te castigarei,
mas lá de cima virão aqueles
que te dirão o que nunca ousei.
 
Que a rosa é só verdade,
só jardins prometidos,
só luz entrando pela casa,
só água da fonte
que por água tenho bebido.
 
Ainda baloiça ao vento
esse verde que tenho por amigo,
esses pinhais, esse ouro,
esse barca serena
num mar de trigo.
 
Satie, a ilha da rosa,
feito único por o ser,
nota a nota  canta o sol
do ocidente vir a nascer.

 (Cynthia Guimarães Taveira)

Sem comentários:

Enviar um comentário