quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019
A tontura do novo e do diverso
No outro dia estive a ver o desfile no tapete vermelho das estrelas de Hollywood na noite de entrega dos Óscares. Dei-me conta de que havia imensos actores novos que não conhecia. Pensei que andava um pouco arredada do mundo do cinema o que não é bem verdade porque até vejo bastante cinema nos canais TV cine. Por outro lado quando vou a Lisboa vejo a tal geração de gente nova de que falava hoje o La Féria no programa do Herman José no canal 1 a propósito da estreia do musical "A Severa". Dizia ele que esta geração nova era muito aberta ao mundo por causa dos computadores. E ainda hoje, uma amiga me dizia que era extremamente frequente entrarem na loja dela pessoas que sendo daqui, viviam ali: canadianos que viviam em França, franceses no Sri Lanka, noruegueses na Bélgica e por aí fora. Alguma coisa fez curto circuíto dentro de mim. Continuava a conhecer, quase como se fossem antigos conhecidos, as estrelas de cinema dos anos anteriores a 2010, o computador nunca me tinha colocado em contacto com o "mundo", antes pelo contrário, talvez porque saiba que a informação faça parte da vida mas não seja a vida... As antigas enciclopédias faziam-me levantar voo, e não me imagino a ter duas pátrias, ou a considerar que qualquer lugar do mundo tanto faz (coitados dos canadianos e demais que vivem noutros lugares porque este pensamento nem sequer lhes passa pela cabeça, eu é que resolvi fazer esta leitura talvez pela sobrecarga do dia relativamente ao novo e ao diverso que se abateu sobre mim). Mas porquê sobrecarga? Tudo somado e só me vinha à cabeça uma palavra: amálgama. Talvez seja demasiado séria e desconfiada. Talvez esteja auto-centrada. Talvez tanta coisa. Mas este novo e diverso ganha a dimensão duma cornucópia que me suga até ao ponto zero da existência. As novas actrizes e actores pareceram-me todos iguais, talvez por me serem desconhecidos, o que é estranho porque vejo cinema. Talvez por não se destacarem e por serem, de facto todos iguais, como os países para viver, como a informação sem fim colhida pela nova geração e formando-a. Talvez pela relativização assustadora a que tudo fica submetido. Talvez pela ausência de identidade numa diluição de tudo em coisa nenhuma. Talvez por estar retrógada e não conseguir acompanhar o ritmo das novas tecnologias como os velhotes que se recusaram a ter multibanco quando apareceu. Aprofundei. Mais e mais: o que me assusta é que a igualdade rouba a alma. É o formigueiro todo igual dos bons momentos. Uma espécie de aceitação de tudo ao ponto de haver apenas a condição de aceitar tudo como única condição. A diluição numa ausência de paixão e a substituição dela por um amor de lume brando altamente duvidoso. Dei-me conta de que a globalização era uma espécie de globo fechado sobre si mesmo donde não havia saída pela premissa de que, ao se aceitar tudo, tudo podia conter. E o paradoxo deste globo novo, diverso é que ele era uma prisão sem espanto ainda por cima. Sem o espanto da Descoberta. Céus! Andámos a fazer as Descobertas para isto? Para um encafuamento desenxaibido contornado pela linha curva do planeta???!!!! Como homens e mulheres todos tatuados, todos iguais pensando-se assim originais? Produtos do "também quero uma tatuagem!". Em que cornucópia se tinha enfiado o meu pensamento? Pior, em que sensação me tinha enfiado? Que náusea! A náusea da amálgama ao fim do dia. Valha-me a música na radiotelefonia que me faz voltar ao "especial", ao "único". Salvou-me o dia, a música. Com ela não tenho que dizer as palavras "paz e amor" que soam a mofo, a desejos idiotas de "amor pela humanidade" inteira como se está fosse uma massa de gente, palavras que nos fazem sentir elevados "acima" da "humanidade" porque somos "nós", os de "grande coração" que a amamos num paradoxo total com a Igualdade apregoada... Pois se estamos acima dela porque a amamos a partir de cima ou de um lugar central lá se vai a igualdade... salvou-me a música para repôr os valores daquilo que é especial. Que se destaca. Que brilha como o sol na escuridão do universo. Aquilo que se destaca, destaca-se e quer lá saber da "paz e do amor" e da "humanidade". Sabe perfeitamente, aquilo que se destaca, que quanto mais se apregoa a paz e o amor mais o ódio retinto fica retido nas malhas do subconsciente. Mais importantes se sentem os que o dizem. Salvou-me uma canção de amor: you are so special...
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