sexta-feira, 17 de outubro de 2014
O lugar...
Almejas o céu
sem que mudes nada na terra
sem que alteres a letra de uma canção
nem que seja por engano...
Almejas o céu
chocando-te contra ser a ser
em vez de contra a multidão
de cegas passadas e mentes cerradas
Almejas o céu
porque ele está próximo mesmo dentro
da imagem talhada
e dos gesto pensado e detalhado
no xadrez pesado em que te encontras
Almejas o céu
pelas certezas afectadas,
pelos vãos das escadas
a que te agarras em subida esforçada
sem ver que não há degraus
Almejas o céu
pela cópia sagrada, da virtude exacta
enquanto te espraias na praia errada
onde há céu à noite mas sem estrelas agitadas
apenas os sonhos teus do dia passado
Almejas o céu
em tristes fados cantados à beira da estrada
de alma inflamada, em queixume que não se encerra
fugindo de apupos incontornáveis, e ficas
numa sombra sombria ao candeeiro encostada
Almejas o céu
em púlpitos em praça em leque abertos
em trajes alvos e de pombas adornadas
no jeito doce de quem doces dá aos ausentes da jornada
e sentes a glória do mundo em vida encontrada
Sortes há outras, de cujos véus infelizes vão caindo
como tristezas vãs diluídas nas pedras
e outras angústias de novo encontradas
sem que o céu não sejam um lamento
um peso, um grave aceno, um tormento, uma fuga contra o vento
do alto das esferas desejar, aquela praia, aquele lugar
onde não se sabe, nem se tem certeza
nem sequer se a praia é o lugar...
(Cynthia Guimarães Taveira)
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