sábado, 18 de outubro de 2014

Rotunda forma

(dedicado a Fernando Pessoa)
 
Escadas, degraus
Níveis, andares,
Montanhas, vales,
Costas e arribas
Serpentes sem desvios
Desvios e serpentes a eito
Ícaros, setas
Todos rectas
Todos certos
De recuos e avanços
Altos e baixos
E a longa esperança...
Todos correctos
Enquanto a estrela
Gira e dança
Ponta a ponta
Em quartos de lua
Revela, a outra face
da divina esfera
Rodopia, e balança
A estrela do mar
Lembra a pomba
Abre as asas em leque
Rectas várias a compõem
E em raios múltiplos vibra
Em roda una se agita e vem
De ramos verdes
Pelas águas e ruínas
Pelos caminhos cria e recria
A verdade que o coração tem
Todo o vaso tem asas
Pela quais se pega e se bebe
E na rotunda forma
Atenta e breve
Inúmera e descreve
As palavras dos passos
A música dos voos
O espírito das ausências
A voz das presenças
As viagens das crenças
Na língua-rainha que de tudo é mãe

 
(Cynthia Guimarães Taveira)          


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