Não são saudades, mas a consciência de um regresso. Vozes e
gestos, reconhecidos. O serpentear do caminho,
por entre plantas que galgam planícies interiores. A consciência demasiado
nítida de um regresso, nas palavras, nas atitudes, e no queixo súbito que se
ergue, ou nos passos demasiado rápidos para não estarem despertos. Melodia longínqua
de novo ouvida. Arquétipos como planetas aproximando-se. E o gesto simples de nos
sentarmos. Mas de nos sentarmos por dentro da conversa. E por dentro de uma
conversa que está sentada e é descontraída. Porque o verdadeiro regresso é a
essa casa interior, de onde nunca saímos, ou que nos acompanhou sem que o soubéssemos.
Há casas que nos são sem que sejam os objectos que nos lembram ou que estes
sejam, sequer, recordações nossas. Porque estão na nossa alma em prateleiras de
histórias. Há casas que somos. E não há
diferença entre nós e elas. Não há fronteira. E todos os limites são
ilimitados, afinal. Mesmo que não se compreenda e que nos apareça como amor
camuflado de nós. Camuflado nos objectos, e nos assentos, nas paredes, e nos sons, e nos brincos de
princesa, ou no espelho camuflado dele mesmo. Há casas que nos diluem e se
coagulam em nós. E tornam ficção a memória do que fomos porque tudo o que não
foi essa casa estava nos arredores da alma, na periferia do coração, na
ausência da intenção, no vazio de
sentido.
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