sábado, 22 de março de 2014

Soa


Entre o sim e o não

Soa a serpente timbrada

Em que timbre é afinal desvelada

Se o que soa é trovoada?

 

Entre o sim e o não

Soa a serpente alada

Em que alas pára ela

Se não é encontrada?

 

Entre o sim e o não

Soa sibilante e intelectualizada

Em que livro soa ela

Se deles está apartada?

 

Entre o sim e o não

Soa a centro e periferia

Em que gira afinal

Se não rasteja à luz do dia?

 

Entre o sim e não

Soa a serpente clandestina

Paira ela em que altar

se a todos os elevou a voar?

 

Entre e o sim e o não

Soa a serpente por descobrir

Em que sombra fica ela

Frente ao mocho a sorrir?

 

Entre o sim e o não

Soa a serpente, soa a serpente

Mas sob que pedra ela dorme

Se apenas soa e não se sente?

 

Soa a serpente

só porque ecoa

nas grutas  internas

das almas expostas.

Nunca lá esteve.

Nunca lá dormiu.

Soando o som que não é.

Lida em anéis de corpo

Cifrada e tomada por cifra

Tornada dança porque dançada

Em dias e noites

sucedidos

alturas várias

de abismos

de soares e sentidos

e no silêncio clandestino

ovo novo em azevinho

pássaro de sopro nascido

soando a ninguém

e em azul do alto dirigido

no segredo infinito

que não soando

o mundo tem.

 

(Cynthia Guimarães Taveira)

 

 

 

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário