sábado, 11 de abril de 2015

Memória




Alcanço-te, no descanso vago de um olhar
Quem dera que tomasses a forma de um vento
Mas um vento cheio de asas leves
Assisto-te, como quem assiste à passagem
De todos os caprichos que te assistem a ti
 
Sinto-te, vagamente, enquanto fito longe
Tudo o que de mim não ficou
E tudo o que ficou se torna teu, a pouco e pouco
Pó que regressa às esferas...
 
Que importa tudo? Só restam palavras
E pontes a fazer nas brumas estendidas
Para lá do nevoeiro de entre as margens
 
Nada a dizer a não ser esta escuta permanente
D’ outros espelhos improváveis
D’ outras histórias nas tuas mãos que ofereces
 
Alcanço-te e a ave interna ergue o olhar
Nas promessas dos dias aquáticos
Não tenho memórias, nada sei do que vivi
Tudo se colou aos ossos e aí ficou
Sem que fosse nomeável até

 

A memória é só saber...  nada mais,  e tudo o que isso é.

 

(Cynthia Guimarães Taveira)

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