sexta-feira, 10 de abril de 2015

O silêncio da pintura




Pintando, sobretudo, símbolos, são aqueles, no entanto, que nada percebendo de símbolos, mais apreciam este tipo de pintura. Os outros inflamam-se em horrores ou venerações e vejo-os ardendo nos símbolos que elegeram. Muito haveria a dizer sobre a transposição ou viagem através dos símbolos mas aquilo que mais será entendido, no final, será, não o que fala ao inconsciente, porque para isso os símbolos são apenas parte de um todo universo, incluindo o mundo,  falando tudo na totalidade ao inconsciente, mas antes, o dado último da simples revelação. Passado esse limiar, até qualquer fragmentação soa a absurdo. Mas não há absurdo naqueles, que nada percebendo de símbolos, apreciam o símbolo. O sagrado é a ausência de absurdo na prova absurda de que existe. Quando alguém contém o sagrado dentro de si, torna-se, inevitavelmente, absurdo para o mundo dessacralizado. É no maior ou menor grau de sacralização entre as várias pessoas que se torna possível o entendimento. Falo de entendimento, não de boa educação, porque dessa está o mundo cheio, e quando não está também está... senão já tinha desaparecido.

Donde partiste?
Dou-te  o sorriso.
Donde partiste, assim o lerás...
É esta a verdadeira arqueologia,
Até lá, tens uma grande viagem a fazer

Chama-se demanda
Em Portugal chama-se Portugalidade
Se o teu corpo o for, podes partir
Se não o for terás de nascer de novo
Passando pela morte, que não é crise
E, ainda assim, isto é só o princípio

 
Em Portugal, ser-se eleito, é já ter nascido a partir da morte. Os que os são de nascença, não precisam de morrer. As suas vidas são, normalmente, absurdas, a sua missão é tornar os outros absurdos.  Mas absurdos aos seus próprios olhos. Alguns poetas, substitutos dos profetas, têm-no feito melhor do que ninguém.


(Cynthia Guimarães Taveira)


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