quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O moinho e a nau




Encontrei as mãos e as vozes
num moinho que nem procurei
e no brilho das espadas a sorte
que em toda a arte neguei

 
Ergui a flor do mato
como a princesa das flores
e o profeta de corpo estranho
estava na minha passagem...
 
Nesta nau de meia lua
cabe tudo o o que é
remos fundos que são raízes
que de tão fixas vão mais além
 
A meio gentes sobem e descem
a meio pesam ou não
a meio dormem a ver as estrelas
a meio gritam com o trovão
 
A meio choram com a chuva
a meio a rirem se faz sol
a meio são vento que meio é
E se a meio há terra, não há solidão
 
E lá por cima velas brancas
como sonhos a preencher
e mais acima ainda
um mastro d'ouro que tudo vê
 
Encontrei as mãos e as vozes
num moinho que rodava
e no brilho do mar toda a sorte
que por ser arte já não negava
 
E a História ficou nos livros
e no sangue da memória....
e lá no alto, no mastro d'ouro
outro sol só viu quem o viu bem
troca o passo a quem o nega
e não existe se por certo alguém o tem
 
(Cynthia Guimarães Taveira)