segunda-feira, 26 de julho de 2021

A árvore do reconhecimento

 


Talvez o mais parecido com esse sentimento seja uma árvore. Parece pouco provável que um sentimento se assemelhe a uma árvore, mas, se pensarmos no reconhecimento d'alguém como o tronco e os ramos, veremos que esse reconhecimento é sólido, com raízes e ascendendo ao céu e que as folhas, em comparação, são as de uma árvore caduca, nunca as mesmas de ano para ano, efémeras e com pouco peso se comparadas com a solidez do reconhecimento. Como se esse alguém, ao falar, lançasse folhas ao vento, passageiras, belas num momento, desaparecidas noutro. Mas o tronco é ancestral, antigo e inabalável e a calma do lago que o espelha e olha, nasce desse desse tronco. É o lago que o reconhece e nem uma brisa faz oscilar esse reflexo preciso e exacto. A calma é assim, acompanha o tempo na sua profundidade, e é por isso que consigo traz a alma, a pedra sólida e a água serena. Um reconhecimento é algo de completo em si. 

domingo, 25 de julho de 2021

A ciência e/é frequentemente a religião


 ‌Como faz a ciência para ser tão respeitada? Tem sempre a última palavra e escuda-se afirmando que pode não ser bem assim. É desta forma que vai ganhando terreno no domínio da crença e vai perdendo a seriedade relativamente às consequências das suas aplicações. O método não é muito diferente daquele adoptado pelas religiões quando querem afirmar o seu poder e confundem sabedoria com domínio pois também, e da mesma forma, dizem possuir a última palavra (que é também a primeira) independentemente das consequências das práticas exigidas pelas elites religiosas, nem sempre sábias. Entre a última palavra, a primeira e o "não é bem assim", todas estas formas de conhecimento podem cair, a qualquer momento, no domínio do próprio domínio que vive em função de si e para si o que implica, não uma correlação entre elementos, mas sim uma transposição das falhas e virtudes dos dominantes para os dominados em proporções variadas. Os envolvidos, tanto na ciência como na religião, acabam por ter comportamentos idênticos e efeitos idênticos e, consoante a proporção dessas falhas e virtudes, facilmente se passa da dúvida metódica para a certeza metódica. Em comum possuem tanto a palavra "método" como o próprio método quando se dá essa transposição de falhas e virtudes. O conceito de"intuição intelectual" proposto por Guénon, não se coaduna com a palavra "método" ou com a palavra "sistema" (palavras, neste caso, praticamente equivalentes) e, no entanto, é essencial à sabedoria fazendo mesmo parte dela. O seu resultado (se é que se pode chamar "resultado" uma vez que não tem princípio nem fim porque É em si) é a ausência de falhas uma vez que, à imagem e semelhança de um raio, ilumina a noite e acerta no alvo que são as próprias trevas. 

terça-feira, 20 de julho de 2021

A arrogância




Se não confunde, segundo diz este senhor, os que vão ponderando de forma crítica as medidas decididas..." , por outro lado, e à semelhança da Extrema Direita, lá vai colocando tudo no mesmo saco. Diz também, a figura, que os "arrogantes individualistas se recusam a reconhecer a autoridade intelectual a quem a conquistou por direito" . Pois, não há nada como se ser submisso a esta "autoridade intelectual" cujo lugar foi conquistado em laboratórios e com formulários sucessivos. É o que temos...tanto de um lado como do outro. É só gente interessante, inteligente e nada, mas nada, nem oportunista, nem submissa a uma agenda política e/ou fanática quer seja de Deus quer seja do Ateísmo Científico. São cada vez mais os indivíduos dos dois lados a engrossar as fileiras das "forças colectivas" que se dizem altamente generosas e bem intencionadas. Deviam casar-se e assim só estragavam uma casa... 

domingo, 18 de julho de 2021

O dia



Ainda virá o dia em que os sábios estarão em caixas de supermercado ou a fazer limpezas, os jovens mais saudáveis de cabeça serão aqueles que se entregam ao desporto e os velhos mais dignos segurarão um cajado no cimo dos montes encaminhando meia dúzia de ovelhas e esse será o substracto da humanidade, o que restará num mundo completamente artificial e cadavérico. Nas casas dos famosos não será visto um livro, nas casas dos empresários não será tida uma ideia, nas reuniões nocturnas e divertidas não será vista uma única mulher que não seja escrava do seu traje e que não tenha os olhos envelhecidos antes de tempo e na casa dos cultos só se encontrarão eruditos ao serviço do sistema. A frescura e a fonte só se porá a descoberto quando, com coragem, alguém caminhe contra todos os contextos absurdos em que é colocado e um simples acto de resistência será o heroísmo de uma vida inteira e será abraçado com imensa ternura pelos deuses. Mas deixo-vos uma selfies para se lambuzarem na estupidez. Até o meu cão é mais inteligente.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Obrigatoriedade e castigo


No Eixo do Mal (programa da SIC Notícias) que começou hoje às 23.00h e composto por democratas, estão agora a defender a obrigatoriedade da vacinação para profissionais de saúde e para os funcionários dos lares, etc. Um deles pensa que também os professores deviam ser obrigados a ser vacinados e defendem mais: medidas punitivas. Como são "iluminados" pensam que se deve "persuadir" as pessoas com informações positivas sobre as vacinas pois as pessoas estão mal informadas e ainda não sabem das benesses das mesmas. Clara Ferreira Alves lá disse que sentiu uns efeitos secundários estranhíssimos a nível neurológico. Uma autêntica roleta russa a juntar-se à do vírus que atinge com gravidade umas pessoas e outras não. Deduzimos que as acções de esclarecimento para a população medíocre que desconfia seriam feitas seguindo a tipologia de "ciência para crianças" ou coisa semelhante. O problema é que essas acções não esclarecem absolutamente nada relativamente aos efeitos secundários das mesmas e, pela rama, ficam-se pelo relato da diminuição das hospitalizações relativamente à doença Covid. As complicações infecto-respiratórias em idosos são coisa rara, sempre o foram. É de agora... Gostava de ver estes "democratas de TV" a fazerem eles mesmos acções de esclarecimento à população, até não me importava que fossem pagos como formadores, e gostava de os ver explicar os detalhes laboratoriais da produção de vacinas, ouvi-los falar em fórmulas e vê-los garantir que uma vez injectada a vacina, feita à pressa, é completamente inofensiva durante os restantes anos das nossas vidas. Rebolo a rir com esta noção de democracia esclarecida a reboque dos laboratórios que se vêem e desejam para acompanhar as mutações do vírus. São estes democratas que diziam que a mulher era dona do seu corpo e que defenderam a despenalização do aborto (e defenderam bem, o aborto é em si uma punição) os mesmos que agora pensam que o corpo das pessoas é propriedade do Estado. É espantoso! E tudo com a melhor das intenções. É incrível que ninguém fale já da lavagem das mãos ( Clara Ferreira Alves chegou a ir com luvas de látex para o programa,mas entretanto abandonou-as, vá-se lá saber porquê), de se ter cuidado com o outro, simplesmente isso, sem que se seja obrigado a lançar-se na fogueira das vacinas cujos efeitos são aleatórios. É espantoso como se passou, de um dia para o outro, do dito: "a minha geração foi obrigada a ir à guerra, a vossa só tem que estar no sofá" para o extremo de se ter de dar o corpo à vacina quer se queira ou não queira. Democratas? É ver a casca a cair ao mínimo abalo. Democrata sou seu e é só pela paciência de ter de vos aturar a todos. E a arrogância com que falam é por demais... Sou antropóloga por formação e sei muito bem o que é o antropocentrismo. Neste caso, o antropocentrismo passou das desavenças culturais para as desavenças na fé na ciência. A ciência é muito mais lenta nos seus avanços do que aquilo que nos querem agora fazer ver. Ela não escapa à História e, tal como a História, dá muitas voltas. O direito à dúvida é a base da liberdade. E, perante uma roleta russa, ela existe mais do que nunca. A pedagogia proposta é a pedagogia da roleta russa. E com pedagogos assim, quem é que precisa de inimigos?

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Ensino


 Aos alunos do sexto ano, nas últimas duas aulas, resolvi, feitos os testes e resolvido o ano lectivo, falar-lhes de simbolismo. Nas duas turmas em que isso aconteceu, não se ouvia uma mosca. Os olhos fixos a absorver, os olhos espantados com um novo mundo. O interesse total,  de todos. O Ministério da Educação tem muito que aprender. Uma das coisas que tem de aprender é que só formamos gente livre se os professores forem livres. Enquanto viverem aprisionados à papelada inútil que serve apenas para defesa de forma a que existam provas num eventual ataque quer por parte dos pais, quer por parte da Europa, quer por parte do Ministério, o ensino não passa de um departamento da função pública com funcionários públicos desalmados que se arrastam pelos corredores a contar os dias que faltam para a reforma. Triste país que tantos génios gerou para isto...


segunda-feira, 12 de julho de 2021

Andorinhas



   Portugal continua na sua marcha progressista na qual se confunde conforto com tudo o que é bom. Temos um país com cientistas formados cujo trabalho no interior do país é difícil, temos muitos especialistas, funcionários, muitas pessoas interessadas no futebol e nas telenovelas, muita cultura, esta cada vez mais estranha e uma juventude muito parecida com as de outros países, nos seus vícios e preocupações, tão parecida que poderiam ter nascido aqui ou noutro sítio que não faria diferença alguma. Agora com o Covid, ficámos mais a sós. O meu diário íntimo é feito de outras matérias, daquelas que não interessam a ninguém ou, quando interessam, como no filme o "Pai Tirano", é como se dissessem sistematicamente "Ai que engraçado", palavras que, quando o filme foi feito, tinham graça porque não queriam dizer nada e as pessoas riam-se da parvoíce (o mesmo que dizer da pequenez), agora o "Ai que que engraçado" foi substituído pelo "Muito interessante", mas a pequenez é a mesma. De maneira que se torna difícil expôr seja o que for e sentir que algum efeito havemos de ter em alguém. A política continua inclassificável e cada vez pior, as desigualdades prosseguem no seu passo regular de há centenas de anos e ainda bem que tenho três ninhos de andorinha todos juntos nas paredes exteriores da casa, como um T4 para andorinhas, onde três casais delas resolveram viver este Verão. Entretenho-me a vê-las e a ver a sua persistência, desde a construção dos ninhos - nunca tinha visto três ninhos de andorinhas colados uns aos outros - até à forma como dançam em redor deles para alimentar as crias. O sentimento mais comum, ao longo do dia, é o da ausência de tudo e apenas as andorinhas parecem fazer algum sentido. E, está bem, também as plantas da varanda que me parecem ter nascido um pouco loucas, à semelhança das pessoas, flores gigantescas que nascem de repente e ficam espetadas como bandarilhas na diagonal, umas roseiras indecisas relativamente ao seu estado, ora recusando-se a dar rosas, ora deixando-as brotar sem mais nem menos, sem sintonia nenhuma com as do jardim. Já olhei para a a varanda e me perguntei se não estaria ali a humanidade inteira, concentrada em três ou quatro metros, ora espevitada, ora murcha, ora colorida, ora resistente, ora desistente. Lá as vou regando e afasto os pensamentos sobre a humanidade: regar a humanidade seria responsabilidade a mais, mas, secretamente, continuo a pensar que é muito provável que ela esteja na minha varanda, clamando por água e adubo, zangando-se ou florescendo. A vantagem de escrever é a de que podemos lembrarmo-nos de tudo e tudo fica bem num texto, basta compô-lo minimamente bem e as coisas até se articulam umas nas outras. Por vezes, até as mais improváveis, como o facto de poder ter a humanidade inteira numa varanda. Posto isto, ao país, continua a não existir um objectivo que vá além do que fazer com o dinheiro europeu e a grandeza tem de ficar nas entrelinhas porque se não estiver lá, então, estamos para aqui a fazer coisa nenhuma a não ser gastar o dinheiro da Europa. Essa grandeza tem de estar verdadeiramente nas entrelinhas, dissimulada, um pouco como aquelas pessoas que dizem não acreditar em Deus e a quem é dito, em jeito de reposta: "Mas Deus acredita em ti". Penso que o mesmo se passa com Portugal que já não acredita grande coisa nos planos divinos para ele, mas os planos divinos acreditam nele e escondem-se por entre as linhas da pequenez que constituí a turba lusitana que se dirige em massa para onde é mandada, seja futebol, novelas, Big Brothers ou partidos políticos. Por vezes, dá para ver a grandeza em pequenos gestos, é só uma questão de olhar poético que é sempre mais astuto do que os outros olhares, e, noutras alturas, espreita a vontade divina, que sorri sempre como um anjo, entre frases do texto da História. Valha-nos isso e as andorinhas desassossegadas, Bernardas Soares da nossa alma. O desassossego é a brisa de Elias que passa, ou antes a brisa que passou para Elias. Foi-lhe oferecida. Uma homeopatia da alma: uma pequena porção de desassossego, curou a fúria do profeta que queria ver Deus nas tempestades. Afinal, estava nas entrelinhas e nas andorinhas. Ainda há quem as tenha feitas em barro pintado e brilhante, de vários tamanhos, em bandos, colocadas nas paredes externas das casas, lembrando os ciclos e as estações, para que isso não seja esquecido, mesmo no Inverno quando elas já cá não estão e ficam, assim, nas entrelinhas.

domingo, 11 de julho de 2021

Apocalipse

 


Se não acreditássemos nos ciclos, tudo estaria irremediavelmente perdido. Não é uma questão de crença, mais precisamente, é uma questão de evidência. Houve duas alturas nas quais, com uma intensidade em demasia, o planeta nos apareceu doutra forma. Uma vez, lendo um livro de Bill Bryson, "Uma breve História de Quase Tudo", logo no início quando a terra nos surge ainda desabitada, com vulcões e fogos e também vendo o filme "A Máquina do Tempo" baseada na obra homónima de H. G. Wells, no qual uma espécie de cenário nos evocou a mesma sensação, a de sermos capazes de um outro olhar, onde o mundo surge como uma terra de ninguém, entregue apenas aos elementos, uma solidão estranha que transmitia um misto de selvageria emergente sem nunca se efectivar nem no plano vegetal, nem no plano animal e muito menos humano pela simples razão de nada disso se encontrar ainda existente nesta terra que consideramos tão nossa e tão conhecida mas que é, afinal, tão pouco nossa e tão desconhecida pela incapacidade que temos de lhe conhecer todas as horas, logo a partir do seu nascimento, como é sugerido nesses dois argumentos da obras citadas e ainda na pintura de Hyeronimus Bosch. A cor de fogo e o negro, os ocres incendiados, o elemento mineral absolutamente vivo e independente de nós, meros espectadores de toda essa época que nos ultrapassa totalmente e que criaram uma espécie de ruptura, como se a nossa existência, meramente humana, fosse absolutamente dispensável nesses cenários na longa vida do planeta e evocando, inevitavelmente, uma solidão esmagadora, não nossa, mas da terra, apenas nossa por osmose. Essa capacidade de osmose com planeta ficou, nesses momentos, ainda mais forte. Na ruptura, no corte abrupto, não só entre duas épocas, mas também entre duas realidades, a nossa recente perspectiva de um planeta nosso entregue à sua própria solidão, caótica como a explosão dos seus vulcões, o céu incendiado de fogo, a terra batida e cor-de-laranja sem vivalma de flores ou árvores, animais ou fósseis e a nossa antiga perspectiva, absolutamente entranhada, de um planeta com seres vivos, nessa ruptura dizíamos, há uma identificação com os princípios da própria vida na terra, porque nela, nessas primeiras horas, nada é totalmente quieto e nada é, em definitivo, gelado. O planeta tem uma espécie de vida solitária onde a linguagem não existe ainda, apenas a vontade dos vendavais de fogo. A vontade é de tal forma soberana que agradecemos a distância que nos separa dessas Eras. Mas, nada nos diz, por causa dos ciclos, que não voltaremos a ela, a um novo princípio, desta feita, obtido pelas mãos humanas entretidas com o jogo de destruir tudo. E nada nos diz que não voltaremos a mergulhar nesses estado caótico primordial só sobrando um ou outro humano como espectador e que só poderá, evidentemente, sofrer com essa vivência. Um planeta que nos vira as costas porque lhe virámos as costas primeiro e cuja vontade renasce em vulcões e labaredas independentemente já da nossa vontade, soberano e indiferente aos humanos que o levaram aos recomeços. Este é o verdadeiro apocalipse porque desnuda, revela um início que pode acontecer a qualquer altura exactamente por causa da questão da vontade, que nos transcende, mesmo que ela tenha vindo devido aos nossos actos. Uma vontade que nos exclui, que não quer saber da nossa existência humana, que nos engole se quiser num mar de labaredas. A soberba contemporânea actual é um impedimento a esta sensação. Nela, o ser humano vence sempre quando os elementos se levantam e ditam o caminho. As hacatombes não passam de desafios e o final é sempre feliz como nos filmes. Numa altura posterior, a mesma visão me assolou, só que produto de mãos humanas que, nessa visão, já eram dispensáveis. Alguns trovões, azulados, ainda num vale, faziam adivinhar um qualquer conflito, mas, no cimo de uma montanha, uma mulher chorava enquanto observava a restante paisagem, incendiada, no céu e na terra. E o choro era baixinho, nada de gritos ou sustos. Apenas um choro que constatava não haver para onde ir. E, perante tal visão, pensamos que qualquer discussão é inútil, pequena e irrelevante. O que nos protege a nós, mas não protege os outros deles mesmos e, por outro lado, o que nos coloca, igualmente, no cimo de uma montanha sem que nada possamos fazer, em osmose com a mulher sentida. Da mesma forma que a mulher não tinha para onde ir, nós sentimos que não podemos proteger os homens de si próprios quando o caos se instala e a amnésia vigora como lei universal. E a principal amnésia talvez seja aquela que nos cala, em nós, a possibilidade de um planeta entregue a si próprio, vulcânico e iminentemente selvagem, onde a sua vontade predomina sem ninguém que possa fazer a ponte entre o céu e a terra, para que a vida, tal como a conhecemos nesta perspectiva actual, possa acontecer, no seu plano vegetal, animal e humano. É que a verdadeira matéria prima é mineral, tal como nos ensina Fulcanelli. E se formos ao início das coisas, é ela que impera, selvagem, sulfurosa, sem mão humana, ainda. Não há nada mais estranho do que imaginar isso e nada mais confrangedor e assustador do que viver isso. A mulher que o diga, no seu choro fino por entre soluços quase inaudíveis...

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Os saltos de fé






https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2021-07-07-acreditar-em-teorias-da-conspiracao-e-um-sinal-de-crise-de-saude-mental/ 


Neste artigo, do link acima, é dito que "acreditar em teorias da conspiração é um sinal de crise de saúde mental", nomeadamente estados de ansiedade, depressão e de baixa auto-estima. Os académicos americanos descobriram a pólvora. Se tivessem passeado um pouco pelo mundo esotérico português saberiam que isso é o "pão" nosso de cada dia dos personagens envolvidos e há décadas. No entanto, há que referir que a crença cega e os saltos de fé, produtos dessa crença, não existem apenas no mundo religioso e/ou espiritual. Há quem subsitua a religião/espiritualidade pela ciência e não admita que haja o direito e o dever de se duvidar das "descobertas" científicas, ou antes, do novo Deus na terra. Duvidar, questionar são ambos comportamentos saudáveis. Se alguém duvidar que uma vacina é suficientemente eficaz para lidar com um novo vírus e muito recente exactamente pela mesma razão e que consiste no facto de a vacina ser nova, recente e feita à pressa, isso só revela uma mente saudável. A análise psicológica serve para os dois lados. Meus caros.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Gazelas

 


Não é em vão que o desfiladeiro passa rápido por baixo dos nossos pés e saltamos, como gazelas, por entre os montículos de pedras e terra e que exalam o mar todos os dias e se deixam esculpir pelo vento por milénios. Passamos rápidos por eles como rápida é a nossa vida e qualquer vida humana. Se reduzida, a vida, a uma das suas essências possíveis, seria composta por esses passos rápidos de gazelas entre o abismo e a plenitude do contacto entre céu e mar. Vida que se repete dentro da própria Vida. Gazelas que somos e nascemos entre paixões, entusiasmos e o ruminar de rotinas coleccionáveis em frascos de cristal. Na anedótica visão da grandeza, deixamos de nos pensar como andrajosos informes e passamos a um reflexo qualquer desde que majestático ou sagrado, ou ambos,  e assim, o ruminar vegetal do animal passa a anúncio de uma boa nova que nos torna grandes e ágeis, capazes de saltar por entre as pedras dos montículos, ora humanos, ora divinos e que se erguem por entre abismos frente ao mar. Não fossem as perspectivas várias, impressas nas existências, viveríamos alegremente em duas dimensões, como deuses incrustados em estelas de pedra. Assim, somos gazelas de vento capazes de milagres quando saltamos acima dos abismos de uma dimensão para outra, tocando, raramente, a estabilidade dos deuses. Apaixonamo-nos com quem não o quer fazer quando é tudo o que queremos fazer e a paixão só morre por esse pequeno engano, por essa pequena camuflagem com que se apresenta. Se não viesse assim, trajada de inocência, estaríamos sempre apaixonados, plenamente viventes como gazelas de vento num salto único sobre o abismo, deuses a duas dimensões com a alegria do infinito. Ainda hoje essas estelas evocam o som e o movimento provindos dos deuses, aparentemente estáticos para quem não lhes pressente esse movimento eterno que copiamos no episódio da vida, quando, o desfiladeiro passa rápido abaixo dos nossos pés, ou cascos, ou o que for, desde que nos eleve e nos torne aptos à consciência da Vida que se instala dentro da própria Vida.


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Os ditadores em bicos dos pés

 


Quentes e boas:

Há uns anos, na "maravilhosa" rede Facebook, fui mandada calar, sucessivamente, por pequenos ditadores que, gozando comigo, minimizando o que dizia, bloqueando-me e ostracizando-me, quer nas redes, quer na vida real, me fizeram nitidamente a vida negra acusando-me, depois, de ser demasiado susceptível. Um deles, que agora se queixa muito da ditadura vigente, chegou inclusive a telefonar cá para casa dizendo que havia coisas que eu não deveria dizer. Passaram uns bons anos, oito ou nove, e as suas próprias acções caíram-lhes na cabeça. Podemos dizer que sinto que tenho a mais oito ou nove anos de ditadura em cima do que eles, os meus "iniciadores" (muitos deles dizem-se iniciados, mas noutras cavalarias) nesse universo novo para alguém que nasceu em 69, ano de transição quer no mundo, quer em Portugal, de mentalidades e de regimes. Fico estupefacta com a sua indignação, mas não devia pois esta ditadura do Covid tocou-lhes no bolso e no público, lugares santos para eles e que tanto defenderam das minhas impressões nesses anos quentes do Facebook. Os ditadores em bicos dos pés, somando e seguindo em vendas de livros, palestras, mas sobretudo público venerador, foram avisados das consequências das suas acções e agora espantam-se! Com quê? Já se esqueceram de que eles são o produto de Portugal pós-Descobertas e que, desde aí, tem navegado pelas águas seculares da Inquisição, da perda de Soberania, das Lutas importadas entre Liberais e Absolutistas, entre Monárquicos e Republicanos, entre Regimes Autoritários e Democratas, todas elas lutas e guerras que nos eram estranhas até o pensamento estrangeiro nos invadir? Se fizessem uma cuidada revisão aos seus próprios gestos iriam ver que durante muitos anos e com as responsabilidades invisíveis que dizem possuir, graças aos seus dons superiores na filosofia e no esoterismo, se limitaram a replicar esses sucessivos terramotos de que Portugal foi vítima. E queixam-se agora de que agora não podem falar? Bem-vindos pois ao mundo que vós próprios me apresentaram e que vos sirva de lição para sempre: quem manda calar, mais tarde ou mais cedo é mandado calar. O triunfo dos porcos não é uma ficção. É uma fixação neste país. Agora rebolam-se na mesma dor que infligiram há uns anos. E têm muita sorte em não haver ninguém, como vós próprios já fizeram, a dizer-vos que está tudo dentro da "vossa cabeça" ou que não são suficientemente "coerentes" ou que são "dúbios" e por aí fora... e talvez não digam porque está à vista. Os ditadores em bicos dos pés balançam ao vento entre extremos e dúbia é a sua reputação, dúbias são as suas palavras, dúbias são as suas ideias... tal e qual a pseudo-democracia em que vivemos e que não, não é de agora, da Era do Covid, começou a ser assim muito antes como denunciei no Facebook e antes de me mandarem calar com métodos muito semelhantes aos desta democraparvacia. Bem vindos à fragilidade em que me deixaram. É bom, não é? E sabem que mais? Ao contrário de vós, não contribuí em nada para que isso acontecesse.