domingo, 27 de fevereiro de 2022

A globalização

 O léxico político da humanidade, que se tornou globalizada, está de natureza binária: ou temos a democracia ou temos uma ditadura e, ainda assim, cada uma delas, consegue ter laivos uma da outra, a globalização total, portanto. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

O sagrado feminino e os resultados

 


Os resultados da História estão a ser deveras interessantes. Creio ter observado bem as diversas sínteses implícitas nos diálogos, se é que foram diálogos e não monólogos no que toca apenas à sua esfera consciente. Há coisas que são imutáveis e uma delas é, por exemplo, a regra hierárquica da iniciação que nos diz que uma vez atingido um patamar, há o domínio irreversível de todos os outros que lhe estão diretamente abaixo. Assim sendo, caem por terra alguns atributos menos bons ao sagrado feminino. Está visto que, estando acima, domina o que abaixo ocorre. E assim, caem por terra também as tentativas estapafúrdias de endeusar ou de tornar em demônio a tal Lilith cujo papel, quanto muito, é passageiro e nada mais. Assim pude rir-me dos resultados que tive o gosto de ver lançados no tabuleiro do jogo. Até porque não foram lançados por mim (longe de mim tal ambição), mas sim pelo alto, de onde disse que viria sempre a Verdade. E veio. 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

A arca


 O meu coração agita-se com coisas aparentemente parvas. Mas não são. Vivo sempre no limite onde acaba o passado e começa o execrável tempo moderno e sempre que uma réstia de bom, belo e de exuberantemente camuflando se manifesta, o meu coração agita-se. Não me dá muito jeito viver desta maneira, estaria mais estável se aceitasse o incontrolável desenrolar da queda sem pestanejar, mas não, não me está na natureza. É desta forma que guardo tesouros para mim mesma numa arca onde cabem todas as coisas que são muitas e variadas, ao ponto de desejar tornar-me eu própria uma arca flutuando acima do caos contemporâneo. Talvez por fora, do lado de fora que é sempre a visão dos outros, tal colectânea de tesouros fechados em mim, pareça um acto de egoísmo simples, quase mesmo a própria definição de egoísmo em acto. Mas não é. Não é também a incapacidade de me expressar porque me expresso se quiser. É antes a inevitabilidade do erro de o fazer. É saber, de antemão, que não vale a pena gesticular num mundo de cegos, falar num mundo de surdos, escrever num mundo de idiotas mascarados de intelectuais. O meu silêncio tem a densidade da pedra e, como tal, e à medida que cresce, tende a tornar-se num planeta com a força da gravidade que lhe é inerente e com a camada de atmosfera, de estratosfera, e por aí fora, que o protege e vivifica. O silêncio é pesado e sólido o suficiente para alterar o que nos rodeia num raio de acção, por vezes específico e curto, outras vezes, difuso e abrangente ou os dois em simultâneo. Isto é coisa de há pouco tempo para cá. A extroversão, bem como os seus efeitos, são assuntos que deixaram de me interessar, até porque, comparativamente ao silêncio, são inúteis. Só o silêncio de uma arca de tesouros produz efeitos, o restante é apenas barulho. Já lá vai o tempo em que havia música, essa arte que vive no ar, do ar e em plena Liberdade. Pois se tornam o mundo cada vez mais tóxico e cada vez mais claustrofóbico como podem reclamar a Liberdade se não a produzem, não a conhecem, nem a reconhecem, nem a querem sequer? Não podem. De maneira que, o meu coração se agita sempre que guardo mais uma jóia nesta arca que sou, neste arcano que me habita, nesta matéria única que não é a dos sonhos que habitam no desejo, mas sim aquela em que o desejo habita o Real ou em que o Real habita o desejo, unidos no travo das traves que compõem a arca que só pode ser de madeira porque acompanha o clima, insuflando para logo a seguir recuperar a sua forma original, num mimetismo externo ao qual o tesouro é inteiramente alheio, porque permanente e verdadeiro. Ainda tendes dúvidas que isto é assim? Melhor não as ter... Porque o erro é extraordinariamente humano e nós não queremos saber da extroversão humana para nada, do "tanto barulho para nada", da ausência de música em direcção ao silêncio vazio onde nem a centelha do silêncio sequer se houve crepitar. Por aqui, a voz do silêncio é audível e crepita. É o fogo inquestionável do brilho das jóias que em mim trago. E não as partilho. Nem pensem.