segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Como é bom


 O que me tenho deliciado com este livro. E quão bom é estar aparentemente à margem de tudo. Não ir a Papaespectáculos, não querer saber das últimas novidades tecnológicas, encolher os ombros e dizer que a voz de Michael Bublé é incrivelmente monótona  comparada com a de Frank Sinatra, sentir uma náusea pela amostra presente da suposta Arte. É bom estar deste lado, longe de tudo isso e continuar pela Antropologia como caminho, exactamente com os mesmos olhos atentos com que via documentários sobre os aborígenes, ou como quando foi aberto, muito cedo, "O Sagrado e o Profano" de Mircea Eliade. Afirmou Margaret Mead que quem vai para sociologia é porque não está bem com a sociedade, quem vai para psicologia é por não estar bem consigo próprio e que quem vai para Antropologia, não está bem nem com a sociedade nem consigo próprio. Palavras sábias, e é tão bom estar do lado do Totalmente Insatisfeito, e poder ler livros assim por já os ter pensado antes nesta inquietação permanente de quem não se identifica com nada, nem consigo próprio, excepto nestes momentos de leitura, complementados com a criação, à moda antiga, que não passava pelo pensamento, mas que surgia espontaneamente, como um arranjo de flores dos verdadeiros (únicos e plenos de significado no tempo de Kairos). Tão bom estar à margem, onde começa o nosso espaço interior que afinal tem tanto de nós e tanto dos outros. Se os modernos soubessem o que nós sabemos, ficavam banzados com a ignorância que percorreram até chegarem a ser Modernos. Como dizia Walter Benjamin: o Anjo da História, anda de costas ...