Bem sabemos que as Idades do mundo, quanto à divisão dos seus ciclos e ao número de anos, têm várias leituras, no entanto, em termos gerais e abstratos, podemos conceber a Idade do Ouro com a duração da totalidade do perímetro de uma circunferência, a Idade da Prata, com a duração do perímetro de três quartos de circunferência, a do Bronze, com a de meio perímetro e a do Ferro, com um quarto dele. Chego a pensar que se o tempo, assim apresentado, é um grande ciclo (evidentemente integrado em ciclos ainda maiores), nós humanos, como microcosmos, teremos essas Idades em nós. E, ainda mais complexo do que isto, sabendo que o tempo não existe, é mera percepção, então, todas essas Idades vivem em simultâneo dentro de nós, o que explicaria algumas angústias e depressões cuja causa é a incapacidade de percepção vívida destas coisas. O adormecimento para esta possibilidade é uma das características da Idade do Ferro. Parece haver uma espécie de determinismo difícil de quebrar. A dialética, quando não mesmo oposição, entre o destino e a vontade, fica sem efeito se vistas as coisas assim, ambos se cumprem alegremente, o destino, como micro-realidade, a vontade como macro-realidade.
sexta-feira, 14 de julho de 2023
O Tempo
quinta-feira, 6 de julho de 2023
Perguntas bem
Perguntas o que é isso de linhagens espirituais invisíveis, e perguntas com justiça, mas a única resposta está exactamente no facto de haver linhagens espirituais invisíveis. São linhagens porque abarcam e nas quais embarcam pessoas com uma espécie de raiz comum, são invisíveis porque ninguém as vê, quer nos propósitos, quer nos meios de actuação, quer nos resultados. Poderia acrescentar que há também uma espécie de eternidade que as acompanha, não só porque atravessam as Eras como porque se estendem a diversos reinos ou planos. A Tradição à qual pertencem obriga a que quem a elas pertence, mais tarde ou mais cedo, as encontre e reconheça a sua linguagem invisível. É tudo tão invisível que não crês, mas vê bem, elas não são uma questão de crença, são uma questão de Princípio, desse modo, a transparência é a cor do manto que as cobre e o reconhecimento dos resultados situa-se na esfera do sorriso, não noutra.
quarta-feira, 5 de julho de 2023
Olhem bem
É verdade que temos mais conforto, televisores, telemóveis, computadores, etc e tal. Mas falta-nos o encanto e o encantamento. Temos constantemente um ambiente hostil ou à beira da hostilidade. A maioria de nós vive com medo ou camufla-o com uma facilmente detectável falsa felicidade. Tive um vislumbre de pessoas Vivas há uns anos, ao ponto de dizer (por sentir a distância entre os zombies e eles), que via "pessoas vivas". Esta forma de vida é como aquele filme de terror que mostra um nevoeiro denso e perigoso a avançar lenta, mas implacavelmente. A quem me disser que vivemos bem, que estamos muito melhor, que todos somos mais felizes, ergo a minha taça de memórias que nunca poderão beber, e bebo à Vida escondida enquanto os incrédulos se deixam cair no abismo. Nada faz tremer essa taça, nada a destrói, ela é feita do sangue e das lágrimas dos Vivos. Guardo-a e bebo-a a sós com Deus. O estado de alma geral é lamentável. O Mistério e o Segredo Dele são a única coisa válida no meio deste nevoeiro mortal. Tornaram-se sombras de humanos, mas o meu reino é feito de Luz. Vario entre a compaixão e o desprezo e nenhum de vós me faz variar destes sentimentos que nutro pela humanidade actual. Sei que muitos não têm culpa e que muitos deviam ter a vergonha estampada na cara. Olhem bem para o que se passa. Olhem bem.
terça-feira, 4 de julho de 2023
A ressaca selectiva
Percebi, pelas notícias, que andam pegados por causa do memorial das vítimas da escravatura. É natural porque o fundo não é totalmente verdadeiro. Para fazer memoriais não se deve ser selectivo. Não se deve esquecer a escravatura "made in África", ou aquela feita pelos índios, nas américas, aqueloutra feita na Índia, onde os escravos intocáveis nem vislumbravam a liberdade, as histórias caladas na China, os mártires da Rússia do Czar e do comunistlmo, os da América Latina comprados pelos cartéis, os escravos do feudalismo, os escravos das religiões, os escravos da família, a escravatura dos animais e muitos mais que a nau Catrineta teria para contar. O memorial do convento da desgraça foi sempre a grilheta da humanidade arrastada pela História. Tanto quanto sabemos as vítimas são vítimas, também elas de selecção, sem que possam apontar os vizinhos resistentes na rua do infortúnio por já se encontrarem noutro plano. E quanto aos escravos actuais, deles não há memória por não lhes ter sido dada a honra de entrarem para a História se é que alguma vez entrarão, ou porque a memória é fraca, cada vez mais, ou porque são tão invisíveis que os ressacados seletivos nem se dão conta de que existem ou existiram. É natural que não se entendam nesta coisa dos memoriais muito "in" porque se combate a injustiça com injustiça.