Caiu-lhe a ficha, maionese, azeiteiro, a última bolacha do pacote e tudo mais um par de botas. Os portugueses são estranhos quando adoptam dizeres e estes estão na moda. Na verdade, os portugueses são estranhos e é por isso que pensamos neles. Dir-me-ão que qualquer povo é estranho. Evidentemente que sim, a única diferença é que os portugueses são estranhos para alguns portugueses que se dão ao trabalho de pensarem nos portugueses. E esses portugueses que se dão ao trabalho de pensar nos portugueses, ainda são mais estranhos e ainda conseguimos o prodígio de ter portugueses que pensam sobre os portugueses que pensam sobre os portugueses, estes últimos são estranhíssimos. Dir-me-ão que estou a exagerar. Não não estou. Há portugueses que pensam sobre os portugueses que pensam sobre os portugueses. É assim que pode nascer uma recenção crítica de uma obra de António Telmo, de António Quadros ou de Dalila Pereira da Costa. Penso (também não conheço tudo) que ainda não se atreveram a pensar sobre os portugueses que pensaram sobre os portugueses que pensaram os portugueses, mas esperem, estou enganada. Quando um português que pensou sobre os portugueses que pensaram sobre os portugueses lança um livro, inevitavelmente podem ser feitas críticas, positivas ou negativas, num jornal por exemplo e assim temos os estranhos portugueses elevados ao cubo, isto se excluirmos o estranho português normal que diz coisas como maionese, azeiteiro, a última bolacha do pacote e ainda tudo mais um par de botas, só porque está na moda. Só agora me caiu a ficha. Plim! Pim!
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