"Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. [...] /
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente."
«Passagem das Horas». Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 26b.
E assim acontecendo, em fragmentos somos compreendidos pelos fragmentos que outros são. Se deixas acontecer a voz da verdade, a falsa aparência trémula, luz de vela ténue e insegura, ilumina, indiferente toda a sorte da unidade que és, como um comboio lento atravessando a paisagem, fotografias sucedendo-se, diálogos suspensos a meio. "Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis" é o momento que não ousam nem ver, quanto mais acontecer! Se existisses hoje, neste lugar, Fernando, serias crucificado de todas as maneiras: ladrão e filho directo de Deus, ao alto e na diagonal e não haveria religião que te sustentasse! Eis o caminho!
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