domingo, 20 de abril de 2025

Os homens de negócios

 



Não percebo o espanto pois há muito tempo que a política é dominada pelos homens de negócios. Está tudo chocado com os homens de negócios. O problema é não haver limites para a riqueza, diz a antropóloga. As pessoas até podiam ser ricas, mas com um limite, mas como estabeleceram que o céu é o limite, ei-los a governar, agora já não na sombra, mas em plena luz do dia. Os países compram-se e vendem-se e as pessoas vão a reboque. E o que é que estes ricos têm para oferecer? Mau gosto. Têm todos um gosto deplorável,  não espalham qualquer tipo de beleza à sua volta, não percebem nada de harmonia e o seu livro preferido é o de contabilidade porque não conhecem as letras, apenas os números. Por isso não se espantem com nada. Dizia o povo que quanto mais se contava o gado, mais ele se perdia... E quanto mais as nações forem dependentes das contagens dos mercados, mais se vão perdendo. E nem o cão-psicopompo têm para os guiar na jornada de perdição. A política desaparece, sobram apenas uns cartazes manhosos nas manifestações de rua empunhados por crianças às cavalitas de pais muito indignados. O limite à riqueza, nada tem a ver com comunismo, tem a ver com o bom senso que é o contrário do comunismo. A América está cheia de filantropos em fim de vida que vendo que não sabem o que fazer ao dinheiro, depois de terem explorado uma data de pessoas, distribuem-no conforme podem, isto quando não financiam partidos e eleições para serem ainda mais ricos. Faz-me lembrar Samora Machel que espalhava granadas e depois distribuia próteses pelas vítimas. O princípio é o mesmo. Os oligarcas deste mundo, são os príncipes deste mundo. E com um tremendo mau gosto, porque não têm cultura, refinamento, nem elegância. Podem ser levados à taberna, mas nunca ao S.Carlos. Os ingleses, há muito tempo,  diziam que as crianças eram para mostrar. Queriam dizer com isto que elas deviam saber estar. Estes burgueses, não sabem estar, quanto mais Ser. Já se viram, nas américas, rituais de sacrifícios humanos em massa sempre que os líderes deslizavam para o disparate. Em nome dos mercados, também se pode fazer isso, não é necessário ser um lider religioso ou apenas político. Não é diferente, o perigo permanece, intacto, íntegro e inteiro. 



❤️❤️❤️

https://youtu.be/Gb1FrnjlXoo?si=LbkiaCiUlclA_NNJ 

sábado, 19 de abril de 2025

A luz


 Diz a História da China que quando o ambiente na cidade ficava caótico, os sábios subiam a montanha e lá no cimo se refugiavam. Nem é necessário ser sábio para ter a mesma reação nestes dias correntes, pois o "mundano" está tão confuso e impossível de se aguentar que basta ter uma inteligência razoável para o fazer. Discorrer sobre o estado do mundo ou escrever poesia é a mesmíssima coisa em termos de efeitos. Nunca pensei que iria viver num mundo distópico onde tudo espelha tudo. Isto parece uma espécie de prisão onde só o silêncio cortante guarda o oxigénio necessário para se viver. Nem sei o que dirão os historiadores do futuro, isto é, se existirem historiadores no futuro pois em breve será muito natural dar a História como extinta, como se esta fosse um animal que não se adaptou.  Qualquer dia sai um decreto-lei a extingui-la por não servir para nada, nem dar lucro. Muito não se falará no futuro deste presente, até porque não há nada para dizer. O presente é uma espécie de droga psicadélica. Eu não preciso dessa droga. Agora a nova modalidade é estar com os olhos bem abertos na escuridão e ver as imagens psicadélicas a passar com as suas cores fosforescentes. Elas passam, e fico a vê-las como espectadora passiva. Não me assustam nem me distraiem, ficam para ali a passar e depois desaparecem. Igualzinho a este mundo. Mais berrante, mas igualmente alucinante . No futuro já sei que vou esquecer estes episódios psicadélicos que não faço ideia porque é que me acontecem. Chego a suspeitar que é apenas uma forma de sintonia com a contemporaneidade e nada mais. É que nem lições advêm dessas imagens, tal e qual o que se passa com o mundo. 

Estou a escrever só porque tenho insónias. São duas e vinte e cinco da manhã e o vento resolveu levantar-se em rajadas. Elas levam-me a virar a cabeça para a janela e dou por mim a falar com o vento como se fosse uma pessoa: "O que é que queres?" E o vento responde: "Nada". Pois é natural, é só vento. Também o vento me diz que é apenas o espelho de um outro vento, que por sua vez espelha outro. O mais parecido com a época actual é um redemoinho. Não há lógica num redemoinho, nem tempo para o medir e torná-lo aceitável mentalmente. É um pedacinho de ar que se levanta e nos leva a dar voltas muito rápidas. É como ser enrolado por uma onda. Já fui enrolada por várias ondas e lembro-me da sensação estranha de não perceber onde era o alto e o baixo. A desorientação era total. Igualzinho aos tempos de hoje.  Por isso, não me perguntem nada neste momento, estou em pleno redemoinho, enrolada numa onda. Não há nada para dizer, nem opinar, nem esperar sequer. Tornou-se tudo de plástico. De plástico plastificado, ou não fosse um espelho. As imagens psicadélicas são espelhos e nada mais. Vou aterrar no cimo da montanha e guardar o segredo da História. A História não serve para nada, nem dá lucro, mas é um segredo. Agora, mal escrevi a palavra História, começou a chover. Como dizia Pessoa, chove lá fora, mas cá dentro acendeu-se uma luz. Quem só vê o profano, não vê o sagrado. Esquece-se da luz. 

 

sábado, 5 de abril de 2025

A voz


 O Pedro mexia, de há umas semanas para cá, mudou de voz. Está mais grave. Não sei se fui só eu que notou essa alteração. Mudou o timbre. Literalmente. Se for também literariamente está possuído. Mistérios.