De como podemos ir reparando em matérias para pensar:
Ontem trouxeram-me o livro “A Terra Prometida – Maçonaria,
Kabbalah, Martinismo & Quinto Império” constituindo o Primeiro Volume das
Obras Completas de António Telmo, organizado, anotado e transcrito por Pedro
Martins e com comentários de Eduardo Aroso e António Carlos Carvalho numa
edição da Zéfiro. Entretida fiquei a ler, sorrindo, por vezes, com a ironia,
característica da qual António Telmo participava de forma exímia... e a páginas tantas, concretamente na página
133, escreve António Telmo enquanto se debate com enigmas: “ Ora, se eu bem o
entendo, o que ele nos está a dizer é que a verdadeira compreensão da qual
nasce a verdadeira força, a verdadeira energia, aquela que nos eleva e não
aquela que no arrasta para os submundos, só vem quando, simultaneamente,
aplicamos ao conhecimento da vida, do universo, de nós próprios ou até mesmo de
qualquer objecto, os nossos três centros essenciais que chamamos vulgarmente
instinto, sentimento e pensamento. Como fazer? É claro que isto não se explica,
mas podemos pelo menos tentar fazê-lo ao pensar e sentir simultaneamente.
Porque dessa forma saímos do processo de identificação, tão comum aos
portugueses como o notam os brasileiros que, acerca de nós, dizem, por exemplo,
que nos confundimos com a profissão. Os portugueses preferem ser o Sr.
Advogado, o Sr. Primeiro Ministro em vez de ser o Sr. Durão Barroso. O mesmo acontece com os
meus colegas professores. Eu não sou professor, exerço a profissão de professor
e chego por vezes a dizer que alguns colegas estão convencidos de que são
professor”. Lido o livro, abri o computador e lá me encaminhei para o facebook
(uma espécie de curiosidade mórbida que alimento nos últimos anos requerendo
tratamento, ainda não sei se urgente ou paciente...) e eis que dou de caras com um denominado “post”,
(palavra que já se começa a introduzir assumindo formas surpreendentes tais
como, “postar”, “postaste”, “postei”) que tinha um link (lá está o Inglês), ou
ligação para a seguinte notícia: http://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=634934&page=-1#.U6AnlII922o.facebook
Achei curiosa a coincidência e achei ainda mais graça a um
comentário que li sobre essa mesma notícia e que posso transcrever porque ele
próprio é uma transcrição de uma história de Bocage:
“Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu
um barulho estranho vindo do quintal. Chegando lá, constatou que um ladrão
tentava levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo
e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor
intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de
profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à
socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da
minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha
bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te
reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
-Doutor, afinal levo ou deixo os patos?”
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Ricardo Reis, 14-2-1933
(Cynthia Guimarães Taveira)