sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Há já algum tempo que não te via...



(dedicado a...  àquele que sabe quando ler este poema)

Havia na tua presença
Toda a recordação viva
De nunca ter partido
Havia em todo o teu glamour
A ciência exacta da arte
Havia toda a máscara
Que te apetecia ter
E por dentro toda a eternidade
Donde te reconhecia
Havia o grande transbordar
Do mais que nós por acontecer
Havia a recordação de um lado
E o não acreditar nela, pelo outro
Havia a certeza intensa
Da mesma natureza e do mesmo instante
Havia a compreensão mútua
De quem não cessa o fogo errante
Havia o fado, a sorte e o destino...
A tragédia, o dom, a alma
e a comédia
Havia a compreensão lenta
Naquilo que era vero diálogo
Havia um espírito reconhecido
E a mágoa desmedida do impossível
Havia a dádiva do nascer do sol
Entregue em embrulho
de sol posto
Havia a recusa de toda a morte
Havia o lugar para além do estado
Havia a gratidão
A loucura como brandura
A ciência exacta dos aflitos
A nobre e eterna guerra
De quem acorda na paz dos anjos
Havia esse pairar que recordavas
Por gestos, tantos e de tanto espanto
Havia o elo que faltava
No desejo absoluto de um novo encanto
Eras o que sempre foste nas Eras
Atravessando e saltando as esferas
Pairavas sem dúvidas ou tormentos
Passei por ti e lá estavas
Só recordei contigo
O principio, o meio e o fim do tempo
Nada de que não te rias quando te digo
Nada que me importe o teu rir
por te saber de cor há tanto tempo
Nem há alegria ou lamento
Apenas a certa ideia que detenho
Como herança que não estrago
Nem me arrependo
Sei-te como se sabe um Mestre
Para além de ti, vejo as montanhas
Transparente e sereno e em recato
no recanto da memória do meu afecto.

(Cynthia Guimarães Taveira)

 



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