Num dos seus muitos e engraçados livros, Bill Bryson refere o factor "poluição" como uma realidade muito mais próxima do que suspeitamos. Segundo ele, os corpos humanos actualmente têm um nível de poluição muito superior (muito mesmo) ao que tinha no início do século XX. As toxinas são mais do que muitas e já não imaginamos um corpo sem elas. Lembrei-me disto depois de ver o último episódio da série "Relíquia Perdidas dos Templários" exibido na RTP 1 nas últimas quatro quartas-feiras à noite. Aquilo que mais me chamou a atenção não foi o ar desarticulado de tudo aquilo pois já estou habituada a séries assim, há muitas no Canal História, mas sim, os Cogumelos Mágicos que supostamente teriam dado uma ajudinha no convívio entre Templários e o "mundo espiritual". Essa ideia é recorrente por entre alguns estudiosos destas coisas. Já não imaginamos corpos sem muletas e muito provavelmente a existirem tais coisas, existiram num planeta muito menos poluído.
Em termos iniciáticos existe uma diferença fundamental entre a palavra "suporte" e "veículo". Nas cabeças modernas, essa diferença não existe. Um "suporte" pode ser dispensável. Ocorre-me a ideia escrita por Fernando Pessoa :"Quem tenha em si o poder de sentir pronta e instintivamente a vida dos símbolos não precisa de iniciação ritual." Nesta simples frase, o poeta esclarece. Sendo o rito, segundo Guénon, um conjunto de "símbolos em movimento", entende-se melhor onde o poeta quer chegar. Sendo assim, a nova forma de leitura de ritos iniciáticos antigos, na qual os alucinogénios que provocam alucinações estariam sempre presentes parece-me ser, também ela, dispensável. Não é com alucinações que se justificam iniciações. Até mesmo Fernando Pessoa, amigo do álcool, não pode ver a sua obra magnífica justificada graças a ele. E se não pode, é porque existe alguma coisa de transcendente que se impõe para além de tudo necessitando apenas de um veículo (um corpo) e nem sempre de um suporte. Convinha aceitar que as condições do próprio planeta, e com ele as do corpo humano, eram diferentes daquelas que hoje existem e, aceitando isso, talvez nós passe pela cabeça, que o cálice, o relicário, a espada e o almofariz talvez não tenham assim tanta importância, a não ser para uma visão materialista da espiritualidade. Dizem os supostos "donos" dos objectos que agora, com aquelas aquisições, fica provado "aquilo que se dizia" e ficamos sem saber a que se referem. "Aquilo que se dizia" e que se diz é que a Ordem dos Templários foi convertida na Ordem de Cristo e que, a partir daí, aconteceram os Descobrimentos e isso está mais do que provado. Aquilo que alguns dizem, por outro lado, é que as drogas são fundamentais para a existência de estados alterados de consciência. Não são. E relativamente aos estados alterados de consciência, também eles têm muitas gradações, basta estudar um pouco.
Este tipo de ideias promove a ideia de acessibilidade fácil a algo que é cada vez mais raro: a Iniciação. Tomam-se drogas, vêem-se e/ou ouvem-se umas coisas e está feito. O simplismo acaba com os "donos" dos artefactos sentados à beira do lago, muito cansados (passear cansa) a beberem um copo de vinho. De nada lhes serve a "verdade histórica". O vazio total. Como vazia é a televisão por ser poluição. E nem sequer um único poema. O vinho de Fernando Pessoa era diferente, só pode.