quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Argumentos



Quando aquilo que nos transcende se apresenta sob a forma de factos, todos os argumentos, já diz a expressão, não existem. Sendo aquilo que nos transcende, transcendente, resta-nos então a contemplação como aquilo que melhor se pode aproximar ao e do sublime. Depois, na Queda, damo-nos conta da retórica cujo movimento é inverso e se mantém apenas devido aos argumentos. Os argumentos são sempre plurais e extensíveis na pluralidade. A grande diferença entre a poesia e a retórica é que a primeira nasce da contemplação que surge com os factos transcendentes e a segunda só se mantém de pé apoiada nos argumentos que lhe estão imediatamente abaixo. Sensível, como é, a retórica quer aproximar-se da arte não obstante a inestética do submundo argumentativo. A poesia, por seu lado, partindo da transcendência, quer apenas regressar ao Paraíso do qual ouve os ecos. A filosofia só se torna bela na demonstração e a demonstração não é uma apresentação de uma sucessão de argumentos, mas sim de factos transcendentes. A pluralidade deles assemelha-se a flores na Primavera; os argumentos assemelham-se a flores secas e mortas que as árvores dispensam e que vão formar o húmus na terra, o alimento físico da árvore. As flores nascem com o sol e do sol e viram-se para ele. Por breves momentos, as folhas caídas conservam vestígios de ouro solar para se apagarem na escuridão ao passo que as flores vivem todo o ano, independentemente das estações. As flores de Inverno têm calor. 


2 comentários:

  1. Gostei, gostei muito. Pena que não eu tenha bons conhecimento no domínio do literário para me sentir mais seguro na minha apreciação.
    Se calhar, mlhor assim.

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