Há amanheceres diferentes que amanhecem primeiro em sonho. Foi
o caso de ontem quando em passeios por casas antigas me foi dirigido o convite para espreitar o amanhecer, sentada num balcão. Um espetáculo. O azul, que nada tinha
de crepuscular, era todo pintado pela manhã e, nele, em vez do sol, um festival
de estelas cadentes matinais desenhando arcos como se fossem fogo de artificio. Ouro
sobre azul turquesa claríssimo. Só depois amanheceu concretamente, quando
acordei. Mas aquela manhã que se queria por concreta e legítima nada tinha a
ver com a manhã do sonho, essa muito mais verdadeira. As estrelas cadentes, na
minha mitologia particular, sempre foram boa novas, rasgos de luz viajando
pelas estrelas e pelo negrume. O dia apagou-se face ao sonho e nunca o
acompanhou naquela alegria explosiva do céu em festa. Desdobrou-se lentamente
como um caracol mais preguiçoso do que o habitual e nada mais fez que não fosse
ofertar-me elementos para mais uns quantos sonhos, a sua única missão no mundo.
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