quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Amanhecer





Há amanheceres diferentes que amanhecem primeiro em sonho. Foi o caso de ontem quando em passeios por casas antigas me foi dirigido o convite para espreitar o amanhecer, sentada num balcão. Um espetáculo. O azul, que nada tinha de crepuscular, era todo pintado pela manhã e, nele, em vez do sol, um festival de estelas cadentes matinais desenhando arcos como se fossem fogo de artificio. Ouro sobre azul turquesa claríssimo. Só depois amanheceu concretamente, quando acordei. Mas aquela manhã que se queria por concreta e legítima nada tinha a ver com a manhã do sonho, essa muito mais verdadeira. As estrelas cadentes, na minha mitologia particular, sempre foram boa novas, rasgos de luz viajando pelas estrelas e pelo negrume. O dia apagou-se face ao sonho e nunca o acompanhou naquela alegria explosiva do céu em festa. Desdobrou-se lentamente como um caracol mais preguiçoso do que o habitual e nada mais fez que não fosse ofertar-me elementos para mais uns quantos sonhos, a sua única missão no mundo. 

 

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