quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Pior a emenda

 


Continua a ser pior a emenda do que o soneto. Talvez tenha sido por isso que sonhei com uma cabra autista que só estabelecia contacto comigo.  Identifiquei-me com a cabra e com o seu autismo. Tenho almoçado com autistas ultimamente. Aprende-se com eles o momento do momento. Ainda ouço comentadores televisivos a sugerirem ao público que tenha plena dos políticos pois estar no lugar deles não é fácil. Dá para rir sem controlo. Estar em qualquer lugar hoje não e fácil, no deles, no nosso ou no dos vizinhos. A época é difícil, de compaixão e de auto compaixão. Sobra, por isso, a cabra autista, a única que sobrevive ao caos sem tirar aqueles que se enfiam nos bunkers que já estão ser construídos. Ligeiramente saltitante, a cabra lá vai andando, como a dona do sonho. E a dona é tão autista, mas tão autista que só partilha um sonho: o da cabra autista, isto para sobreviver. Qualquer tentativa de emenda que faça é pior do que o soneto, porque logo se levantam  espadas, ou de um lado ou de outros e o que a cabra quer é paz, ainda que o soneto não seja grande coisa. Em tempo de guerra, que se danem os sonetos, apenas as flores são apetecíveis, quer para a cabra gulosa, quer para a dona do sonho, talentosa. 

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