segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Templária à força


Já é o segundo que me diz "se quiser vi ver é só telefonar". Em comum, produzem obras. A falta de espaço e de interesse ainda vai fazer nascer as galerias em casa. Estive a ver uma galeria que dá ""oportunidade" aos artistas. Por duas semanas cobra novecentos euros. Diria antes que dá a oportunidade aos artistas de "apostarem" que vão vender pintura acima dos novecentos euros. O artista torna-se um apostador e o galerista, esse, joga pelo seguro. Assim, já é o segundo que conheço que mantém as coisas consigo e, se é para apostar, então que se aposte no "além-vida", ou seja, depois de morto, logo se vê. As galerias caseiras poderiam começar a nascer como cogumelos o que era uma boa resposta ao vampirismo dos "galeristas" que se limitam a alugar um espaço. Por convite ou por marcação, quem fizesse uma romaria pelas casas dos artistas iria encontrá-los no seu meio ambiente, de melhor humor e provavelmente ainda seriam convidados para almoçar. E então, sim, poderíamos falar numa "democrátização" da arte e não nesta fantochada da banha da cobra onde é dito que todos "podem fazer tudo" mas que, na prática, é um "vê se te avias" no aluguer de espaços de exposição.  Se não fizesse as coisas para a glória de Deus estava tramada. Templária à força, é o que é. 


 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Factos


https://pontofinalmacau.wordpress.com/virgula-cronica-de-jose-luis-peixoto/?fbclid=IwAR2pK5vxmU-zq5GgCnL9MfXl3gySk9jtzF-d5bytDdfoYvakA9LWpI4UYEk


Nesta crónica José Luís Peixoto queixa-se da doença crónica do saber factual. Começou com os enciclopedistas e tem agora o seu auge na Internet. Já uma vez me questionei aqui como é que Leonardo da Vinci reagiria com tanto acesso a informação, ele que queria saber tudo. O saber desalmado é apenas isso, desalmado. Pode ter utilidade mas não tem nem produz efeito na alma. E aqui está o busílis de muitas questões. Inevitavelmente conduzem ao belo (que contém sempre a sabedoria). A informação pode deslumbrar mas é fugaz. A sabedoria acaba sempre por criar. E a criação só pode ser feita com alma. Cientificamente não se sabe o que a alma é. Apaixonadamente, sabe-se o que ela é.  Ainda muito haveria para dizer sobre a Iniciação e o papel das Hierarquias. Oh, se havia.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Intriga-me




O fenómeno da chamada Nova Ordem Mundial intriga-me. Há uns anos era uma teoria da conspiração terrível da qual era dito que um único governo totalitário comandava o mundo  (ver a Wikipédia) e eis que, com a pandemia, para alguns esotéricos portugueses, subitamente, (deve ser da virose), se transformou numa coisa boa. Já é o terceiro a quem ouço isto (não percebi se lhe tiraram a palavra Mundial ou não). É a mesma coisa que pegarem num partido de extrema Direita ou de extrema Esquerda e dizerem que, segundo a sua interpretação, são partidos moderados. Pode ser também que seja estratégia hermenêutica de maneira a fazer desaparecer a ideia de totalitarismo do horizonte. Ou pode não ser. Como não confio nas hermenêuticas de alguns esotéricos há muito tempo, a dúvida intala-se. Talvez queiram simplesmente comunicar (os esotéricos portugueses gostam muito de comunicar), chegar às massas com as palavras que as massas utilizam. Como isto já não tem ponta por onde se lhe pegue e, olhando para o caos à minha volta (segundo Mircea Eliade, o homem, no espaço e tempo sagrados é o centro do mundo -- por isso é que olho à minha volta), há uma nomenclatura muito mais apropriada e capaz de chamar os bois pelos nomes: "Kali-Yuga", o ciclo mais pequeno e mais destrutivo de um conjunto de ciclos temporais. Mas como isso é chamar os bois pelos nomes, ninguém está interessado. Preferem entrar em hermenêuticas intrigantes sobre Novas Ordens Mundiais, nem sei bem para quê porque do caos não se livram. Evidentemente que muitos sofrem da síndrome nacional do Chico Esperto na esplanada, sentado a fazer o quatro com as pernas, de óculos escuros, com ar de quem "controla", com ar de quem "domina", de quem "sabe" tudo o que se acontece à sua volta, desde as "gajas" que passam, passando pela política mundial. Com ar de quem, se tivermos dúvidas sobre qualquer questão, são a pessoa certa a quem devemos perguntar. Na verdade, não são o centro do mundo, apenas o centro do seu próprio mundo que criaram e encontram-se no terreno do profano julgando que são chão sagrado. Qualquer pessoa, com dois dedos de testa (são muito raras), só pode denunciar o que se passa. Constatar, como crianças (atenção aqui às crianças porque estamos a falar no sentido superior da infância e não na divinização da infantilidade mórbida que tem muito a ver com a obesidade mórbida - nome fantástico para designar os cérebros e corpos em papa) que o que se passa hoje no mundo é caótico. É um caos à escala Mundial. Como é um caos, apela-se à palavra Ordem com interpretações várias mas sempre acoplada com as palavras "Nova" (da qual suspeito), e "Mundial" que se encontra absolutamente fundida, nos dias de hoje, com a palavra "globalização" que é o que sabemos. Assim, quando tentam novas hermenêuticas do conceito "Nova Ordem Mundial" esquecem-se do velho conceito indiano "Kali-Yuga" que, por ser velho, é sábio e preciso no que aponta.
E esquecem-se do diagnóstico. Correm para a putativa cura como uma manada de elefantes descontrolados, utilizando conceitos de trazer por casa que vão roubar à Net (não aos livros), só para conseguirem vender o seu peixe, que é diferente e variado (cada qual defende coisas diferentes e, relativamente à iniciação, não me parece que saibam muito bem do que estão a falar ) e que atrai público, honrarias, aplausos e admiração, crescente em número, no domínio virtual, e decrescente em número, no domínio presencial (já era assim antes da pandemia). Mas, se tivermos em conta o conceito de "iniciação virtual" e o de "iniciação efectiva", veremos que até a palavra virtualidade decaiu. O virtual deixou de ser a semente efectiva que se lança à terra para passar a ser um mundo decadente, em ciclo final, espelhado na Internet. Assim sendo, a Mania das Previsões, torna-se facilmente na Mania das Antecipações (nos telejornais, devido à americanização da língua, já não se diz "prever", diz-se "antecipar", o que são duas coisas totalmente diferentes) e os esotéricos portugueses lançam-se numa corrida (que é sempre competitiva entre eles - basta um colocar um vídeo  no Facebook onde aparece a falar para os outros, logo de seguida, colocarem o seu, só um ceguinho é que não vê) em direcção a essa Nova Ordem , seja lá o que isso for. De uma coisa tenho a certeza. O nome é horrível. E, a palavra Ordem, nunca poderá ser Nova. Ela pertence à Tradição que está para além do Tempo e do Templo. Aliás, a "com - templação" é estar com o Templo, não é ser o "Templo" (aquele que é o templo é o fanático), e, nesta altura, só podemos constatar, depois de contemplar, que nos encontramos num fim de um ciclo. Os germes do seguinte estão na Iniciação efectiva. As virtualidades são recursos de emergência para uma época onde as pessoas são incapazes de chamar os bois pelos nomes. Até porque não sabem os nomes dos bois, não conhecem a sua linguagem, por mais que falem na linguagem dos pássaros, espampanante nas suas penas e colorida na internet. Essa linguagem, permanece o véu por retirar e nada tem a ver com "bocas" ou "sugestões", como muitos crêem. É superior a isso.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Chocolate

Tive a sorte de conhecer bons jogadores e maus jogadores e, assim, penso que os maus jogadores e com mau perder (para não dizer, péssimo), estão envolvidos numa teia da qual só podem sair sem jogar. O gozo que me dá ver a sua cara de pau, ainda com os mesmos truques a espreitar por debaixo da manga e incapazes de franqueza, só é igualável a comer um chocolate.

Estão horríveis




‌Perguntou-me ontem um vizinho por causa da minha pintura se já tinha feito exposições. Disse-lhe que sim embora sem grande interesse por parte das pessoas. "Mas como?" Perguntava ele. Respondi-lhe que o sentido estético tinha sofrido uma grande anomalia e que a capacidade de decifrar símbolos ainda mais e que, por isso, não havia grande interesse por parte das pessoas. As pessoas gostavam mais de borradas do que de outra coisa. Vivemos numa época estética atípica, não é só o vírus que torna a época atípica. No outro dia o meu irmão ligou-me e adivinhei-lhe o sorriso maroto do outro lado do telefone (já não se pode dizer, do outro lado da linha porque já não há linhas, é tudo pelo ar) quando me perguntou: "O que é que achas da cultura?" referindo-se ao mundo cultural actual. Respondi-lhe que era uma "mer...". Ele disse que já sabia que iria responder assim. Nem costumo dizer asneiras, mas, neste caso, não há volta a dar. O desgraçado do meu irmão também apanhou por tabela com a cultura clássica da minha mãe e sofre de uma síndrome irreparável: a não identificação com nada disto. Já pintei a casa toda. Ao menos serve para alguma coisa. Demos por nós a falar sobre frascos transparentes para a casa de banho. Ele parou a meio da conversa e disse: "Já viste sobre o que é que estamos para aqui a falar? Sobre frascos!" Ri-me. Chegámos à conclusão que era uma tentativa desesperada de nos agarrarmos a qualquer coisa de bonito numa época tão feia. E é verdade, agarramo-nos a coisas aparentemente fúteis mas que são a ponta de  um iceberg enorme, com as suas raízes numa educação da visão, da harmonia, do símbolo. Quem gosta de grafittis, de arquitetura contemporânea, das porcarias expostas, não pertence ao nosso universo, tomamo-los por tontos (por parvos). Vivemos numa espécie de solidão a dois. Na solidão de quem, pela infância, passeou pela mão da nossa mãe, ele com cinco, eu com sete anos, pelas ruínas de Roma e sentiu o tempo como coisa viva. Estamos vivos por entre ruínas. As pessoas, por seu lado, na sua grande maioria, surgem aos nossos olhos, como algo incompleto, tosco e difuso. Sem a dignidade das ruínas. Vivem numa ignorância pestilenta e peganhenta. Gostam das coisas piores e desdenham as melhores com a arrogância de quem se sente superior. São insectos obedientes. Horríveis. As pessoas, na sua grande maioria, estão horríveis. Dizer o contrário é mentira.

domingo, 13 de setembro de 2020

Enquanto as estradas forem estas, nós não vamos continuar



Enquanto tivermos uma sociedade bi-polar, por um lado virada para as novas tecnologias e, por outro, virada para os neo-tradicionalismos, autores como António Telmo, Dalila Pereira da Costa ou António Quadros continuarão desconhecidos. Porque a única via para conhecer as suas obras é através de um apelo muito forte para a Verdade. E enquanto se embarcar nas modas que nada mais são do que acções e contra-reacções de manipulações políticas  e financeiras, por mais que apelemos para que se conheçam esses autores, o desinteresse é total. Tanto os neo-tradicionalismos como as novas tecnologias, agradam pelo poder que propõem. E o poder, meus amigos,  não é mais forte do que a verdade mas conduz a que se perca muitíssimo tempo com coisa nenhuma. Um veneno. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Os Durrell


https://youtu.be/wHFPoTkLpTM

Das séries mais deliciosas que vi nos últimos tempos. Já vai na quarta temporada. De segunda a sexta na RTP 2 depois do Jornal da Noite. Simplesmente perfeito.