sábado, 12 de março de 2022
Dançar
sábado, 5 de março de 2022
Ab initio
https://www.rtp.pt/play/p10004/terra-historias-da-ceramica
Porque quando a humanidade se encontra completamente desorientada, como é o caso, convém ir ao início.
Relativamente às iniciações, sacerdotal, guerreira e artesanal, a hierarquia, quando se diz existir, conta apenas a história do lado externo do tema. Em todas elas, sem excepção, são os três níveis que são envolvidos no processo, que é sempre um processo cosmogonico, até mesmo a sacerdotal que visa a libertação desse mesmo processo. É apenas a sílaba tónica que muda, consoante a via (intrinsecamente ligada a cada alma que a perpétua e a desenvolve). A magia não é iniciática, é apenas, e apenas por vezes, um aspecto rarefeito (e muito) da iniciação, mas muito apelativo em tempos de decadência ou de final de ciclo sendo este último também, e sempre, um aspecto totalmente rarefeito da humanidade. É caso para dizer que, quando a humanidade perde as suas características exemplares, modelares, o barro (donde provém), ainda que no seu aspecto caótico, como o desta fotografia, transporta o embrião da Obra embora, para isso, tenha de haver um recomeço, abrupto se fôr o caso do fim de ciclo da Idade Negra, na qual vivemos. Os minerais são os alimentos das plantas: neles colocam as suas raízes e desenvolvem a sua outra natureza, desta feita, ascendente e de outra espécie. A patologia humana acontece por amnésia de questões fundamentais, tais como, por exemplo, aquelas que são colocadas por estes oleiros neste documentário. Quem somos? Qual a demanda? O que é, de facto, o caminho? Tudo questões que andam a par com a matéria prima, seja ela o corpo, o coração ou aquilo que nos transcende como simples humanos. O barro, indivisível de nós, é o sustento do reino vegetal que transportamos na nossa memória ancestral, o mesmo reino que nos há-de devolver o Paraíso. Em tempo de queda vertiginosa, há uma preferência pelo Inferno, mas estas questões continuam intactas. Alguns dão com elas, outros, ficam diluídos no caos, incapazes de as colocar e de se pôr a caminho. Ficam estáticos como estátuas de sal pensando andar e sorrindo sarcasticamente de textos assim, sem se darem conta de que estão petrificados, de medo e de imbecilidade. O barro, esse, tem a virtude de se misturar com a água e, por isso, de ficar maleável. Da pedra ao barro, do barro à flor na terra e na jarra. Se não voltarem ao início, não voltam, nem vão a lado nenhum.
domingo, 27 de fevereiro de 2022
A globalização
O léxico político da humanidade, que se tornou globalizada, está de natureza binária: ou temos a democracia ou temos uma ditadura e, ainda assim, cada uma delas, consegue ter laivos uma da outra, a globalização total, portanto.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
O sagrado feminino e os resultados
sábado, 12 de fevereiro de 2022
A arca
O meu coração agita-se com coisas aparentemente parvas. Mas não são. Vivo sempre no limite onde acaba o passado e começa o execrável tempo moderno e sempre que uma réstia de bom, belo e de exuberantemente camuflando se manifesta, o meu coração agita-se. Não me dá muito jeito viver desta maneira, estaria mais estável se aceitasse o incontrolável desenrolar da queda sem pestanejar, mas não, não me está na natureza. É desta forma que guardo tesouros para mim mesma numa arca onde cabem todas as coisas que são muitas e variadas, ao ponto de desejar tornar-me eu própria uma arca flutuando acima do caos contemporâneo. Talvez por fora, do lado de fora que é sempre a visão dos outros, tal colectânea de tesouros fechados em mim, pareça um acto de egoísmo simples, quase mesmo a própria definição de egoísmo em acto. Mas não é. Não é também a incapacidade de me expressar porque me expresso se quiser. É antes a inevitabilidade do erro de o fazer. É saber, de antemão, que não vale a pena gesticular num mundo de cegos, falar num mundo de surdos, escrever num mundo de idiotas mascarados de intelectuais. O meu silêncio tem a densidade da pedra e, como tal, e à medida que cresce, tende a tornar-se num planeta com a força da gravidade que lhe é inerente e com a camada de atmosfera, de estratosfera, e por aí fora, que o protege e vivifica. O silêncio é pesado e sólido o suficiente para alterar o que nos rodeia num raio de acção, por vezes específico e curto, outras vezes, difuso e abrangente ou os dois em simultâneo. Isto é coisa de há pouco tempo para cá. A extroversão, bem como os seus efeitos, são assuntos que deixaram de me interessar, até porque, comparativamente ao silêncio, são inúteis. Só o silêncio de uma arca de tesouros produz efeitos, o restante é apenas barulho. Já lá vai o tempo em que havia música, essa arte que vive no ar, do ar e em plena Liberdade. Pois se tornam o mundo cada vez mais tóxico e cada vez mais claustrofóbico como podem reclamar a Liberdade se não a produzem, não a conhecem, nem a reconhecem, nem a querem sequer? Não podem. De maneira que, o meu coração se agita sempre que guardo mais uma jóia nesta arca que sou, neste arcano que me habita, nesta matéria única que não é a dos sonhos que habitam no desejo, mas sim aquela em que o desejo habita o Real ou em que o Real habita o desejo, unidos no travo das traves que compõem a arca que só pode ser de madeira porque acompanha o clima, insuflando para logo a seguir recuperar a sua forma original, num mimetismo externo ao qual o tesouro é inteiramente alheio, porque permanente e verdadeiro. Ainda tendes dúvidas que isto é assim? Melhor não as ter... Porque o erro é extraordinariamente humano e nós não queremos saber da extroversão humana para nada, do "tanto barulho para nada", da ausência de música em direcção ao silêncio vazio onde nem a centelha do silêncio sequer se houve crepitar. Por aqui, a voz do silêncio é audível e crepita. É o fogo inquestionável do brilho das jóias que em mim trago. E não as partilho. Nem pensem.