Afirmas não existir na existência
E existes na inexistênciaNo branco ardor da página
Onde vagas leves de palavras se abraçam
Onde se afastam inalteráveis
Afirmas o ser na tua ausência
E completas versos à distância
Doce lágrima d’ouro inscrita
Na constante ruína emergente
Apelas aos deuses um gesto
Que te redima de seres homemVoltas a face que é paisagem
E nas valsas que danças
Aqueces o azul do nulo universo
Vastas impressões
Sacodem-te os sonhos transparentesErgues a tocha enquanto me olhas a sorrir
Nas cavernas ácidas aprumando almas
Nos desníveis não cais, nem sublimas
Só essa franca ausência tão presenteParece chamar-me na outra margem
De névoas vestida e investida
Esse ténue fogo que vislumbro
Num cá sem aparente testemunho
Senão a arte que resumo
Nos horizontes possíveisDe todas as paisagens
Quando me ergo em voo puro
Chamar-te-ia anjo se te visse
Ou estrela de amanhã se te inaugurasse
És sem nome aquele que viveEm mim espelhando a outra face
Cynthia Guimarães Taveira)
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