sábado, 24 de maio de 2014

Ponte



Afirmas não existir na existência
E existes na inexistência
No branco ardor da página
Onde vagas leves de palavras se abraçam
Onde se afastam inalteráveis
Afirmas o ser na tua ausência
E completas versos à distância
Doce lágrima d’ouro inscrita
Na constante ruína emergente

Apelas aos deuses um gesto
Que te redima de seres homem
Voltas a face que é paisagem
E nas valsas que danças
Aqueces o azul do nulo universo

Vastas impressões
Sacodem-te os sonhos transparentes
Ergues a tocha enquanto me olhas a sorrir
Nas cavernas ácidas aprumando almas

Nos desníveis não cais, nem sublimas
Só essa franca ausência tão presente
Parece chamar-me na outra margem
De névoas vestida e investida
Esse ténue fogo que vislumbro
Num cá sem aparente testemunho

Senão a arte que resumo
Nos horizontes possíveis
De todas as paisagens
Quando me ergo em voo puro 

Chamar-te-ia anjo se te visse
Ou estrela de amanhã se te inaugurasse
És sem nome aquele que vive
Em mim espelhando a outra face

 

Cynthia Guimarães Taveira)

 

 

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