quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cansaço a contra-luz




Ainda os que vão sonhando na floresta do cansaço em árvores levantadas em desencantos, em árvores levantadas de falsas esperanças, abanando aos ventos das tempestades, elevadas as árvores aos expoentes do não-ser, grandes de raízes profundas da civilização das mil-crenças, ver estes portugueses, sombras de si mesmos, plantadores já mecânicos de naus que tardam acontecer. Ver o cansaço extremo de quem vive sem não entender... não é preciso ir muito longe, nem aos governos, nem às bibliotecas, nem aos bancos das escola, nem aos mestres do oriente, não é preciso uma demanda para se ver esses olhos tristemente cansados raramente levantados, estão por toda a parte e não é preciso ir a Marte. Antes, a viagem se faça ao invés, e não seja o longe mais longe que nos dê a real visão do triste momento... que a viagem se faça para dentro dos olhos, bem para dentro, em acto de pura consciência. Que a viagem se faça pelo interior dele, do outro, do aqui tão próximo, do tão próximo que fica que lhe vejamos essas árvores levantadas, na floresta do cansaço, na ilusão do permanecer, tão perto dele, tão junto dele que lhe transmitamos o nosso olhar, mesmo que este seja a visibilidade dessa floresta de Inverno, mesmo que lhes digamos: repara como as árvores se erguem, se movem, se agitam na tristeza do teu penar.
Haverá assim, nem que seja isso, uma companhia... um rasgo de luz nessa floresta... a esperança de que a terra pulse na agonia do desejo do verde imenso da Primavera que, mais do que a serenidade conformada e conformadora, possa um dia devolver a vida no seu estado primeiro: o da alegria. Ainda os que vão sonhando, apanhando a boleia dos pássaros, que são sempre uns poetas... e vão..., ainda porque tudo dêem sem saber que o dão,  ainda que nada lhes seja devolvido, nem a graça, nem a fortuna, ainda assim, são eles os que conhecem o caminho... e talvez cada um saiba e guarde um sonhador dentro de si.

 
(Cynthia Guimarães Taveira)

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