Este texto sim, tem pés e cabeça.
https://www.revistapunkto.com/2020/03/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de.html?fbclid=IwAR0_q59s0F1aziQLw9ugOZdrBV0IfA4y4cNYJ-1Wi0t_xxZqTYucI1Nnbxw&m=1
Com cabeça, tronco e membros
A propósito deste texto que coloquei, lembrei-me de uma família que vivia engalfinhada na mesma casa. A mãe e o pai tinham uma vivenda e fizeram anexos de maneira a que os três filhos pudessem ter os seus apartamentos dentro da mesma área. Desta feita, num mesmo espaço, viviam os pais, a filha o marido e as suas duas filhas, o filho a mulher e os seus dois filhos e mais um filho, a sua mulher e os seus dois filhos. Ao todo eram catorze alegremente todos uns em cima dos outros. Inevitavelmente, a privacidade tornava-se algo parecido com um pensamento abstracto. A vigilância tecnológica de ponta é a mesmíssima coisa. Onde não há privacidade há, inevitavelmente, promiscuidade. Se o verdadeiro risco é esse, com esta pandemia como é dito no artigo, a Rússia, por exemplo, já há muito percebeu isso, a América também (basta lembrar o que se passou com o Facebook) e outros países já devem também ter acordado para isso. Também me faz lembrar uma professora que tive no secundário que era muito moralista, estava sempre a dizer-nos como nós devíamos comportar dentro das suas balizas morais colocadas muito perto uma da outra. A filha dela foi a primeira a aparecer grávida, com dezasseis anos, para espanto da nossa turma. Assim, esta coisa do Big Brother já anda na cabeça de muitas pessoas desde que, provavelmente, se escreveu o Big Brother. É nestas alturas que nos fechamos inevitavelmente para dentro, único lugar onde se pode estar e onde ninguém vê e esse lugar (como a gravidez da filha da professora) é extremamente potente. É aqui que entra o Bandarra. Não porque ele tivesse previsto o que iria acontecer (as profecias não são futurologias, são avisos), mas sim porque parte do que ele relata não se refere ao tempo nem a qualquer tempo em concreto, refere-se ao espaço. E, esse espaço, passa pela tripeça (então, sim, tripeça fora do tempo), que é o homem, o país e o mundo. Parece que o Terceiro Corpo das Trovas não é da autoria de Bandarra, mas nelas o espírito tradicional permanece intacto e talvez até vá mais longe que o Corpo Primeiro e Segundo. Tal como René Guénon afirma, o tempo devora o espaço, é certo, mas, no limite, é o espaço que devora, por fim, o tempo. E o espaço fala da situação do homem no mundo. E essa pode não ser localizável.
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