sábado, 25 de abril de 2020

O 25 de Abril


Em miúda escrevi um poema sobre o 25 de Abril no qual cantava os presos libertos. Desde aí tenho tido problemas com a suposta liberdade. A liberdade de dizer o que me passa pela cabeça tem-me colocado em sarilhos. Constatei haver pequenos ditadores espalhados por aqui e por ali, frequentemente em lugares chave para o desenvolvimento da minha própria vida. Fui livre de escolher o curso superior, é verdade, mas a liberdade de o exercer nunca existiu. Fui livre de ter ideias para projectos, mas o contexto nunca permitiu que fossem para a frente. Fui livre para pintar belas pinturas, já expô-las requer a espera que o mau gosto, que ocupa os espaços onde se expõe, desapareça porque não há espaço para o meu trabalho. Nunca há. Fui livre para ir para o Facebook dizer coisas e em compensação fui invadida pelos tais pequenos ditadores com acesso aos bastidores dos computadores. Fui livre para me revoltar e como resposta dei de caras com a indiferença. Hoje, passado quase meio século desde esse dia da liberdade, percebi que a liberdade é ficar fechada em casa e criar o meu próprio mundo sem dar contas a não ninguém porque a liberdade que nos deram para que nos pudéssemos desenvolver fora de nós, é falsa. A única liberdade que existe é a que damos a nós próprios para criar um mundo livre deste mundo onde nós prometem liberdade mas onde ela fica sempre pela metade. Este é aliás o destino dos verdadeiros criadores, quem não o é não passa de um macaco de imitação que vem para a rua cantar a liberdade ao ritmo daquilo que os pequenos ditadores que povoam o país concedem. E olho-os de alto. Com toda a legitimidade que a minha própria vida me concedeu. Hoje, prefiro uma bela rosa amarela a um belo cravo encarnado. Pelo menos reflecte o sol e a minha liberdade interior. A única possível. 

Sem comentários:

Enviar um comentário