As pessoas esgatafunham-se por um minuto de fama, a real preocupação com o estado das coisas é outra coisa porque não dá fama alguma, a não ser a de profeta da desgraça. Olhando o panorama geral, chego a desejar que a parte subtil e benéfica do planeta se solte desta avaria materialista e volte em forma de anjo para ir redimindo o planeta. Parece radical, mas para grandes males, grandes remédios. Uma purga é uma purga. Meia purga não chega para um mal maior. Não é difícil de adivinhar onde isto vai parar, ou a um grande cataclismo ou a uma reviravolta impensável, ou as duas coisas. A degradação tem limites, como tudo tem, aliás, neste mundo. O que aflige mais é ter de assistir a isto porque não nos faz sorrir nem nos dá tranquilidade. O que nos faz sorrir ou nos dá tranquilidade é sabermos que tudo tem um limite. O chamado "progresso", filho do evolucionismo, nunca foi tão troca-tintas durante a sua parca existência. Mas talvez exista mesmo "progresso" e este não seja mais do que "ver o filme ao contrário": quanto mais "progredimos" mais estamos perto do "fim do progresso" e isso, sim, é um progresso, atendendo à existência de ciclos, coisa que o "progresso" na sua visão limitada, não entende porque a sua visão é tão limitada que não se enxerga. No outro dia, um amigo, por brincadeira, chamou-me "mulher das cavernas". Ri-me porque não anda nada longe da verdade. Algo de primitivo ou primevo chama por mim, e não é bem aquilo que se encontra nos compêndios da psicologia da História, a pulsão de reprodução, alimento e sobrevivência. Esta caverna, donde sou proviniente, não é escura. De escuridão nada tem porque o elemento que nela mais abunda é o da luz. Assim sendo, eu e o meu amigo, falamos de coisas muito diferentes, aliás é o que nos distingue e o que me torna a mim distinta. Bem vistas as coisas, um minuto de fama é hoje replicado em imagens, reproduzido. É, também, uma forma de sustento e sacia desejos de imortalidade. As cavernas não são todas iguais, isso aponta-nos a história, tal como os corações. É a incapacidade de entender os distintos mundos subterrâneos que vai fomentar, depois, a maior confusão na espécie humana e, meia dúzia de pseudo-iluminados, vão espalhando o testemunho das pulsões arcaicas, quando o homem, já muito caído e com um dilúvio em cima, se deixava reger pela mesma batuta dos seus amigos animais vendo tudo desfocado como se estivesse ainda debaixo de água. É esse testemunho, na corrida desenfreada contra o tempo, que é passado, como o único e verdadeiro e, em sintonia com a época, tem fama e sucesso.
Muito bom.
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